Brasil e China avançam rumo a memorando de entendimento sobre economia circular em fórum mundial
Realizado em 15 de maio, durante o Fórum Mundial de Economia Circular, o encontro exclusivo “Desbloqueando oportunidades da economia circular entre China e Brasil” reuniu representantes dos governos dos dois países, lideranças empresariais e instituições parceiras. A iniciativa foi organizada pela Fundação Ellen MacArthur, pela Associação Chinesa de Economia Circular (CACE) e pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS), e teve como objetivo identificar prioridades compartilhadas, promover a troca de boas práticas e estabelecer caminhos concretos para a cooperação bilateral.
A sessão contou com a presença de autoridades de destaque, como Liu Dechun, Diretor-Geral da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China (NDRC); Zhu Liyang, Presidente da CACE; Adalberto Maluf, Secretário de Estado do Meio Ambiente de São Paulo; e Lucas Ramalho Maciel, Diretor do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) do Brasil. Ao todo, participaram mais de 60 representantes da indústria e de instituições chinesas e brasileiras.
O encontro marcou um passo importante rumo à construção de um memorando de entendimento mais amplo entre as duas nações, que deve ser firmado nos próximos meses. A iniciativa ocorre em um contexto de reaproximação diplomática impulsionada pela recente visita do presidente Lula à China, e se apoia na experiência consolidada do país asiático, que desde 2008 tem a economia circular como prioridade nacional — inclusive com acordos internacionais, como o firmado com a União Europeia em 2018.
Análise: Pedro Prata, Gerente Sênior de políticas e instituições para a América Latina
À medida que o Brasil dá novos passos em direção a economia circular, por exemplo com a aprovação do Plano Nacional de Economia Circular (PLANEC) neste mês, a China surge com sua experiência sólida, já que a economia circular é uma prioridade no país asiático desde 2008. Este evento desempenhou um papel vital, não apenas incentivando esta troca de conhecimento, mas também por mapear conceitos e projetar produtos, que podem ocorrer nas indústrias que buscam a circularidade desde o design.
A cooperação Brasil-China marca este momento importante para estreitar o diálogo entre os dois países em torno da economia circular. A delegação chinesa compartilhou experiências concretas sobre a ampliação dos sistemas de reciclagem e destacou projetos inovadores voltados à circularidade em setores estratégicos como embalagens, baterias e biotecnologia, sempre alinhados às metas climáticas do país. Pelo lado brasileiro, apresentamos avanços nas iniciativas de bioeconomia na Amazônia, o papel do design circular e os desdobramentos políticos recentes, como a Estratégia Nacional de Economia Circular.
IFC lança orientações para avaliar e financiar iniciativas circulares
A International Finance Corporation (IFC), braço de investimentos do Grupo Banco Mundial, lançou diretrizes para avaliar projetos de economia circular. O objetivo é facilitar o fluxo de capital para melhores resultados de clima e biodiversidade, fornecendo critérios claros que ajudem investidores, instituições financeiras e empresas a identificar e quantificar projetos alinhados aos princípios da economia circular.
As diretrizes da IFC estabelecem critérios para verificar se uma atividade é compatível com a economia circular. Para ser elegível, o projeto deve demonstrar alinhamento com práticas circulares, apresentar pelo menos um indicador qualitativo ou quantitativo e gerenciar adequadamente os riscos ambientais associados. A padronização dessas avaliações visa reduzir incertezas e custos, incentivando o mercado financeiro a direcionar mais recursos para soluções circulares concretas.
Análise: Luisa Santiago, Diretora Executiva para a América Latina na Fundação Ellen MacArthur
Essa iniciativa da IFC é de extrema relevância para sinalizar às empresas aqueles projetos relacionados à economia circular que têm o maior potencial de retorno em termos financeiros, e também os melhores resultados ambientais e sociais. Trata-se de uma instituição com um entendimento refinado do conceito de economia circular e que, ao trabalhar com seus clientes corporativos para financiamento de modelos relacionados à economia circular, percebeu que a demanda estava muito limitada a projetos de reciclagem. E, ao criar essas diretrizes, tem o objetivo de educar o mercado e aumentar o fluxo de capital investido em modelos mais refinados de economia circular. Por exemplo, projetos ligados ao design de produtos, serviços e modelos de negócios que viabilizem o reuso, o reparo, a remanufatura, bem como projetos que viabilizem a produção que regenere a natureza ao longo da cadeia de suprimentos. Em suma, essas diretrizes vão permitir mais investimentos nas empresas em modelos que são projetados para não gerar resíduos e poluição, para circularem os produtos e materiais na economia e para regenerar a natureza. É fundamental superar essa lacuna no entendimento de economia circular que existe hoje no mercado para que os investimentos incidam sobre os projetos capazes de trazer os maiores e melhores resultados no longo prazo.
Nova estratégia do governo visa restaurar pastagens e fomentar crescimento verde no campo
O governo federal lançou, no fim de abril, o programa Recupera Pastagens, com o objetivo de restaurar até 40 milhões de hectares de pastagens degradadas no Brasil. A iniciativa, coordenada pelos ministérios da Agricultura e da Fazenda, visa recuperar áreas exclusivamente com práticas de agricultura sustentável, reduzindo a pressão por desmatamento e ampliando a produtividade das áreas já abertas.
A recuperação dessas áreas é vista como uma estratégia de desenvolvimento econômico e climático, pois permite aumentar a eficiência da produção sem a necessidade de avançar sobre novas áreas de vegetação nativa. Segundo o governo, o programa integra as metas de descarbonização e faz parte da Nova Indústria Brasil, alinhando agropecuária, sustentabilidade e crescimento econômico.
Com investimento inicial previsto de R$5,1 bilhões, o programa busca atrair mais recursos por meio do financiamento verde e parcerias público-privadas. A recuperação de pastagens pode, além de gerar renda no campo, contribuir com metas de transição ecológica, um dos pilares do Plano de Transformação Ecológica proposto pelo Ministério da Fazenda.
Análise: Victoria Almeida, Gerente de Programa da América Latina na Fundação Ellen MacArthur
O lançamento deste programa demonstra um reconhecimento, por parte do governo federal, de que não existe oposição entre regenerar a natureza e colher benefícios econômicos. Pelo contrário, nossas análises globais mostram que a ampla adoção de práticas de produção regenerativa, juntamente com a eliminação dos desperdícios, pode destravar um benefício econômico equivalente a $2,7 trilhões por ano até 2050. E isso se soma aos benefícios para o clima e a biodiversidade.
A regeneração da natureza é um dos princípios fundamentais da economia circular, que também incluem a eliminação de resíduos e poluição e a circulação de produtos e materiais em seu mais alto valor. Ao adotar esses princípios, os governos e as empresas podem acessar oportunidades de desenvolvimento econômico e rentabilidade que estejam alinhadas à mitigação da mudança climática e à recuperação da biodiversidade. Como integrante do Fórum Nacional de Economia Circular, a Fundação Ellen MacArthur está apoiando o desenvolvimento do Plano Nacional de Economia Circular, que irá orientar as ações do governo brasileiro em direção a uma economia circular.