Solução desenvolvida por startup do Parque da Unicamp pode otimizar aproveitamento de fertilizantes
Desenvolvidos pela Polaris, startup hospedada no Parque Científico e Tecnológico da Unicamp, os dispositivos microfluídicos facilitam a realização de pesquisas complexas ao simular, com precisão e em dimensões reduzidas, processos de difícil realização em tamanho natural
Na indústria química, polímeros têm sido cada vez mais empregados na nanotecnologia para a elaboração de materiais em pequenas dimensões que simulam, com grande precisão, as condições reais encontradas por pesquisadores em escala maior. Eles podem ser confeccionados em laboratório para apresentar variadas características físico-químicas desejadas, como flexibilidade, resistência mecânica, porosidade, seletividade química etc. Os polímeros também apresentam grande versatilidade de uso e, por isso, são materiais adequados para pesquisas que simulam condições complexas.
Esse amplo potencial de aplicabilidade dos polímeros na nanotecnologia ficou evidente ao químico Reverson Quero desde o seu período de mestrado e doutorado no Instituto de Química (IQ) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Com base em suas pesquisas e com um desejo de empreender, ele fundou uma empresa voltada ao desenvolvimento de polímeros, inicialmente chamada Plasmáticos, mais tarde renomeada como Plasmotech, até, por fim, chegar em 2023 com o nome de Polaris.
A Polaris é uma startup que está hospedada no Parque Científico e Tecnológico da Unicamp, complexo gerenciado pela Agência de Inovação Inova Unicamp, e vem conquistando clientes com contratos de desenvolvimento de novos polímeros e dispositivos microfluídicos. Essa tecnologia permite manipular pequenas quantidades de líquidos em canais com dimensões microscópicas e têm numerosas aplicações.
Graças a esse potencial, a Polaris atua em diversos campos, como Quero explica: “As possibilidades de aplicação dos polímeros miméticos (aqueles que reproduzem funções ou propriedades naturais) e dos dispositivos microfluídicos são variadas. Hoje, temos projetos sendo desenvolvidos sobretudo no setor petrolífero, mas também aplicamos essas soluções em análises clínicas, em parceria com uma empresa francesa, e em projetos voltados ao agronegócio e à saúde. Muitas dessas iniciativas são realizadas em colaboração com grupos de pesquisa da Unicamp. As aplicações desses materiais são inúmeras”, afirma o químico.
Uso de polímeros em projetos nas áreas de saúde e agronegócio
Além do setor petrolífero, a Polaris tem em andamento dois projetos com a aplicação de polímeros. Um deles é na área da saúde, como Quero detalha: “Desenvolvemos um polímero que permite coletar e transportar amostras de urina de maneira prática, sem perda de metabólitos importantes”, afirma.
Como ele esclarece, isso pode trazer um grande avanço nesse tipo de análise laboratorial: “No método convencional, o paciente precisa ir ao laboratório de manhã para coletar o material, pois muitas moléculas são voláteis e precisam ser analisadas imediatamente. Com nosso polímero, já em fase de validação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o processo é diferente.
O paciente recebe em casa um frasco com uma tampa contendo o polímero, faz a coleta da urina, o polímero absorve os metabólitos, e o paciente envia apenas a tampa pelo correio. A urina líquida é descartada. Trata-se de um polímero para transporte de amostras secas. Isso facilita o diagnóstico e possibilita um monitoramento contínuo, permitindo que um paciente possa realizar análises quinzenais para controlar nutrientes e imunidade”, explica o químico.
Outro projeto em fase de desenvolvimento na Polaris é na área do agronegócio. Quero também detalha como os polímeros são aplicados nesse caso: “Desenvolvemos polímeros para encapsular nutrientes, fertilizantes e agrotóxicos. Normalmente, a planta absorve apenas cerca de 40% dos fertilizantes que são nelas aplicados, e o restante é desperdiçado pela ação da água ou pelo sol. Nosso trabalho envolve nanopartículas encapsuladas em alginato para liberar os nutrientes de forma controlada. Isso reduz perdas, otimiza o uso e diminui a quantidade necessária de nutrientes para aplicação”, comenta Quero.
Como os polímeros auxiliam em pesquisas no setor de petróleo
Com relação aos projetos voltados ao setor do petróelo, o fundador da startup exemplifica como os polímeros são aplicados nas pesquisas para sua extração: “Recebemos demandas para solucionar problemas complexos e o desenvolvimento de polímeros se encaixa nesse processo. Um exemplo: a Petrobras realiza simulações de extração de petróleo injetando água do mar em rochas imensas, uma tarefa complexa e de difícil execução. O que fazemos aqui é miniaturizar esses processos. Reproduzimos uma rocha com carbonato de cálcio utilizando polímeros miméticos, o que nos permite analisá-la em escala reduzida com grande precisão. Isso reduz custos e simplifica significativamente as operações envolvidas”, detalha o Quero.
E ele acrescenta: “Esse processo de miniaturização reproduz com grande fidelidade as condições reais. Primeiro, escaneamos uma rocha natural e coletamos todas as suas propriedades geológicas. Em seguida, usamos inteligência artificial para criar um modelo 3D. Depois, analisamos a composição geoquímica da rocha e reproduzimos tudo em um polímero para impressão. O polímero representa a rocha natural tanto em geometria quanto em sua composição físico-química”, completa Quero.
O estímulo da Inova Unicamp na fundação da Polaris
A Polaris é uma startup que nasceu e cresceu dentro da Unicamp, com forte vínculo com a Inova. O ponto de partida dessa trajetória foi a edição de 2020 do Desafio Unicamp, uma competição organizada pela Inova de modelagem de negócios baseada em tecnologias desenvolvidas na Universidade, aberta a estudantes de graduação, pós-graduação e a interessados em empreender e inovar com ciência e tecnologia.
O time de Quero foi o vencedor do desafio naquele ano. Essa conquista permitiu que ele vislumbrasse uma chance de abrir uma empresa: “Quando descobri o Desafio Unicamp, percebi uma oportunidade de conectar a pesquisa com o mercado, algo que é muito difícil. Eu estava na transição do mestrado para o doutorado e o desejo de empreender sempre me inquietou. A vitória no Desafio foi o estímulo que faltava para abrir o negócio”, afirma Quero.
Com o espírito empreendedor despertado, Quero e seus sócios fundaram a startup Plasmotech – inicialmente denominada Plasmáticos – que foi incubada em 2022 na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp (Incamp),também gerenciada pela Inova Unicamp. Quero comenta que o início foi desafiador, e logo foi preciso ajustar o foco da atuação da empresa: “Começamos trabalhando com tratamento de polímeros, mas percebemos que havia dificuldades para escalonar nosso equipamento, que era muito caro e limitado. Ficou claro que precisávamos mudar o modelo do negócio”, explica o empreendedor.
Nessa ocasião, sob orientação da Incamp durante o período de incubação, ele ajustou o rumo da startup: “Conversei bastante na época com os especialistas da Inova e da Incamp, que me orientaram a realizar uma transição do negócio. Assim, em 2023, decidi encerrar a Plasmotech e fundar a Polaris. Meu foco passou a ser o desenvolvimento de novos polímeros e dispositivos microfluídicos e deu certo! Foi assim que entramos em uma trajetória de sucesso”, comenta Quero.
Ele finaliza destacando a importância do apoio da Inova Unicamp em sua carreira como empreendedor: “A Inova foi um divisor de águas. Até então, eu via muitas pesquisas ficarem engavetadas. Fui bolsista em minhas pesquisas acadêmicas e sempre acreditei na necessidade de devolver à sociedade o investimento feito em pesquisa. A Inova me mostrou que era possível transformar um valioso conhecimento em algo rentável e útil”, conclui o empreendedor.