“O Brasil é o coração do algodão no mundo”, destaca o especialista Joe Nicosia, durante o XXII ANEA Cotton Dinner
Evento foi realizado pela Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (ANEA), em São Paulo (SP), e reuniu os principais nomes da cadeia produtiva do algodão, exportadores, representantes de entidades setoriais e líderes do agronegócio
Em 2024, o Brasil alcançou a posição de maior exportador de algodão do mundo e essa conquista histórica deverá se consolidar ainda mais, segundo Joe Nicosia, diretor geral de operações e senior head da plataforma de algodão da Louis Dreyfus Company (LDC). Nesta semana, o executivo apresentou a palestra “The Cotton Market Outlook”, durante o XXII ANEA Cotton Dinner & Golf Tournament, evento promovido pela Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (ANEA), no sofisticado Rosewood Hotel, em São Paulo (SP), que neste ano celebrou o aniversário de 25 anos da Associação.
O encontro reuniu os principais nomes da cadeia produtiva do algodão, exportadores, representantes de entidades setoriais e líderes do agronegócio.
Na análise de Nicosia – um dos principais especialistas do setor nos Estados Unidos – a união de todo o mercado no Brasil, aliada aos investimentos em tecnologia e a adoção de boas práticas agrícolas, foi essencial para elevar a qualidade da pluma brasileira e garantir sua produção com regularidade e sustentabilidade. Como resultado, o país ultrapassou os Estados Unidos, pela primeira vez, no ranking dos países exportadores. De acordo com dados mostrados por ele, o Brasil atualmente libera o fornecimento de algodão em todos os mercados consumidores, exceto no México, e é o terceiro maior produtor global.
Nicosia também abordou os desafios enfrentados pelo setor. Segundo destacou, com safras cada vez mais robustas, torna-se fundamental a união dos países produtores para divulgar as qualidades do algodão – uma fibra, renovável e biodegradável – frente às fibras sintéticas, visando aumentar o consumo da commodity em âmbito global. “Atualmente, 70% das fibras utilizadas pela indústria global são sintéticas. Precisamos trabalhar juntos para aumentar o market share do algodão”, destacou.
Desafios e oportunidades do mercado
Após a palestra, foi realizado um debate com a participação de Joe Nicosia e de grandes nomes do mercado de algodão: Miguel Faus, da ANEA; Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit); Gustavo Piccoli, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa); Marcelo Duarte, diretor executivo do Cotton Brazil e Henrique Snitcovski, diretor executivo das plataformas de algodão, grãos e oleaginosas da LDC para o norte da América Latina.
Na ocasião, Miguel Faus destacou que uma das ações realizadas em prol do fortalecimento do algodão foi a entrada conjunta da ANEA com a Abrapa, no ano passado, na Make the Label Count, coalisão que visa garantir que as alegações de sustentabilidade para têxteis na União Europeia sejam justas e confiáveis. A iniciativa representou um esforço importante, reafirmando o compromisso do Cotton Brazil – dedicado à promoção internacional da pluma brasileira – com a defesa das fibras naturais e sustentáveis.
Já Piccoli, da Abrapa, pontuou que o Brasil tem que continuar abastecendo o mercado global algodão, mas defendeu uma articulação mais forte da cadeia têxtil nacional e internacional para avançar ainda mais. “Devemos buscar políticas públicas que incentivem o uso da fibra natural”.
Snitcovski, da LDC, mediou o painel e observou que, internamente, o consumo de algodão ainda é inferior ao de outras fibras. “Queremos expandir nossa presença em outros mercados, mas também precisamos manifestar de forma vocal a qualidade da pluma brasileira internamente”.
Fernando Pimentel, da Abit, mostrou por meio de dados que o consumo de fibras na produção têxtil deve crescer entre 2,5 e 3 milhões de toneladas por ano, o que significa que há uma importante oportunidade de avanço da pluma no consumo interno. “Ter uma indústria têxtil potente é bom também para a cotonicultura brasileira”, afirmou.
O papel do algodão nos esforços mundiais de descarbonização da economia e de uma produção agropecuária mais sustentável foi contextualizado por Marcelo Duarte. “Melhoramos a qualidade e a quantidade das safras e, de 2019 para cá, entramos na primeira divisão do mercado mundial de algodão. O adversário, agora, é a fibra de origem fóssil. Precisamos fortalecer o uso do algodão como fibra natural e mais sustentável, de forma prioritária”, concluiu.