Aumento do percentual do biodiesel no diesel impacta a durabilidade dos caminhões e transportadores fazem alerta
Mesmo com preocupações do setor de transporte rodoviário, Governo aumenta quantidade obrigatória do biodiesel para 15%
Fonte energética com baixa emissão de carbono, o uso do biodiesel vive momento de atenção e debate entre produtores, governo e setores consumidores. Em 2025, a demanda por biodiesel deve alcançar 9,6 bilhões de litros, crescimento de 5,9% em relação ao ano anterior. Os dados foram divulgados em pesquisa realizada pela consultoria StoneX em junho deste ano, e registram um cenário complexo nas operações do transporte rodoviário de cargas, responsável por movimentar mais de 65% de tudo que é produzido no Brasil.
Apesar das preocupações do setor, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aumentou o porcentual obrigatório do biodiesel no diesel de 14% para 15%, com vigência a partir de 1º de agosto. A decisão, embora defendida como avanço sustentável pelo governo, acende um alerta para os transportadores rodoviários, que já enfrentam custos elevados com manutenção em decorrência das atuais proporções de biodiesel, além de outros desafios como burocracia jurídica, falta de segurança e infraestrutura insuficiente.
Desde que a mistura obrigatória de biodiesel foi elevada para 14% em fevereiro de 2024, transportadoras têm enfrentado um aumento expressivo nos custos de manutenção. De acordo com estudo da NTC&Logística, o prazo para troca dos filtros de combustível caiu pela metade, o que elevou em mais de 7% os custos de manutenção por veículo. Esse acréscimo, que representa mais de 0,5% no custo total das operações, tem impacto direto na rentabilidade do setor. Em uma frota com 100 caminhões, o prejuízo anual equivale ao valor de um veículo novo.
Carlos Panzan, presidente da Federação de Empresas de Transporte de Cargas do Estado de São Paulo (FETCESP), faz um alerta quanto aos custos operacionais do biodiesel. “Reconhecemos a importância de políticas voltadas à sustentabilidade ambiental, mas é necessário ponderar os impactos técnicos e econômicos que o aumento do teor de biodiesel pode gerar para a operação das frotas”, diz o presidente.
Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), cerca de 70% do biodiesel é derivado do óleo de soja. As características físico-químicas diferentes do diesel mineral, como maior absorção de água, maior viscosidade e presença de impurezas naturais, contribuem para um desgaste maior nos veículos. “Teores mais elevados de biodiesel causam maior desgaste nos sistemas de injeção, filtros e motores dos veículos, o que leva a aumento no custo de manutenção e redução da vida útil de alguns componentes”, afirma o presidente.
Para o representante da federação, existem outras maneiras de promover e incentivar práticas ecológicas. A FETCESP atua ativamente pela sustentabilidade com seu apoio ao Programa Despoluir, iniciativa criada pelo SEST SENAT. O programa é reconhecido pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) e oferece avaliações veiculares ambientais gratuitas às transportadoras, incentivando a redução da emissão de poluentes e promovendo a melhoria da qualidade do ar e economia de combustível. Caso o veículo esteja dentro dos padrões estabelecidos, o Selo de Aprovação do Despoluir é colado no pára-brisa do automóvel.
“Queremos contribuir com um transporte rodoviário mais verde e eficiente. Avaliar os prós e contras do biodiesel é fundamental. Já observamos, em outras ocasiões, que variações na composição e no controle da cadeia de distribuição podem impactar negativamente o desempenho dos veículos. O ideal é aliar o avanço ambiental com responsabilidade técnica e segurança operacional”, finaliza Carlos Panzan.