Por uma transição energética que respeite as realidades locais
* POR Claudio Castro e Camilo Adas
A decisão da União Europeia de restringir a partir de 2035 o registro de veículos novos apenas aos que forem considerados de “emissão zero” tem provocado reações importantes dentro da própria indústria automotiva europeia.
Recentemente, as entidades ACEA (Associação dos Fabricantes Europeus de Automóveis) e CLEPA (Associação Europeia de Fornecedores Automotivos) pediram à Comissão Europeia uma revisão das metas de CO₂, defendendo maior flexibilidade regulatória e a inclusão de tecnologias como híbridos plug-in, motores a combustão altamente eficientes, hidrogênio e combustíveis descarbonizados.
Esse movimento é especialmente relevante para o Brasil, que abriga uma das maiores concentrações de fábricas automotivas do mundo, reunindo montadoras de origem europeia, americana e asiática. Essa presença global torna o país um elo estratégico na cadeia mundial da mobilidade, e reforça a importância de políticas que valorizem soluções desenvolvidas localmente.
Ao longo das últimas décadas, o Brasil construiu um modelo próprio de descarbonização com base em biocombustíveis como etanol e biodiesel, que possuem ciclo de carbono fechado e, quando comparados à matriz elétrica europeia, apresentam pegada ambiental inferior à dos veículos elétricos.
Além disso, tecnologias como o flex-fuel e os híbridos adaptados à realidade nacional mostram que é possível avançar com eficiência e sustentabilidade sem abrir mão da diversidade tecnológica.
A SAE BRASIL, como entidade independente, propõe que a transição energética seja guiada por critérios técnicos com escala global e flexibilidade regional. A pluralidade de soluções — desenvolvidas com base nas características econômicas, ambientais e produtivas de cada país ou região — deve ser reconhecida como parte legítima do esforço global de descarbonização.
“A transição energética precisa ser tão global quanto possível, mas tão regional quanto necessária para ser viável do ponto de vista ambiental, econômico e social”, destaca Camilo Adas, conselheiro de Tecnologia e Transição Energética da SAE BRASIL.
A recente manifestação da indústria europeia reforça que não há um único caminho para a descarbonização. O Brasil, com sua matriz energética limpa e tecnologias consolidadas, tem muito a contribuir — desde que suas soluções sejam compreendidas e valorizadas dentro do contexto global. A SAE BRASIL reafirma seu compromisso com uma transição energética tecnicamente fundamentada, adaptada às realidades locais e alinhada com os objetivos climáticos internacionais.
* Claudio Castro é presidente da SAE BRASIL, e Camilo Adas é conselheiro de Inovação e Transição Energética da SAE BRASIL e Diretor de Estratégia e Transição Energética na Be8.