Mais de 84 mil estabelecimentos extrativistas nos estados da Amazônia Legal estão sem energia elétrica, mostra estudo inédito do IEMA

Mais de 84 mil estabelecimentos extrativistas nos estados da Amazônia Legal estão sem energia elétrica, mostra estudo inédito do IEMA

Novo mapeamento revela exclusão elétrica e desafios para a sociobioeconomia na região

Mais de 84 mil estabelecimentos extrativistas nos estados da Amazônia Legal estão sem energia elétrica, mostra estudo inédito do IEMA

O estudo pioneiro “Mapeamento da sociobioeconomia: bases para políticas de inclusão energética na Amazônia Legal” do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), lançado nesta quarta-feira (5), mostra que mais de 84 mil estabelecimentos extrativistas nos estados da Amazônia Legal estão sem acesso algum à energia elétrica. O estudo sistematizou os dados dos nove estados da Amazônia Legal avaliando produção vegetal, atividades agroextrativistas e acesso à energia elétrica das milhares de famílias que vivem da floresta como extrativistas, agricultores familiares e comunidades tradicionais. Seu objetivo é subsidiar decisões governamentais e estratégias de inclusão produtiva, promovendo desenvolvimento sustentável, preservação ambiental e valorização da sociobioeconomia. Leia o documento no site do IEMAenergiaeambiente.org.br.

“Para manter a floresta em pé, é preciso construir uma nova economia para a Amazônia, muito baseada nos produtos da sociobiodiversidade. A agricultura familiar já apresenta um modelo concreto para essa nova economia. Mas essa economia não se sustenta sem infraestrutura adequada. A Amazônia precisa de energia e potência, só levar luz não é suficiente para apoiar esse desenvolvimento. É necessário uma energia elétrica de qualidade e suficiente para garantir acesso a direitos básicos”, ressalta André Luis Ferreira, diretor-executivo do IEMA.

Dados relevantes que o estudo apontou:

  • Roraima, Amazonas e Pará concentram os maiores índices de exclusão elétrica entre estabelecimentos extrativistas, com 74%, 66% e 45% sem acesso, respectivamente;
  • São Gabriel da Cachoeira (AM) e Cametá (PA) apresentam os maiores núcleos de não eletrificação, com mais de quatro mil unidades cada;
  • A Amazônia Legal possui 685 mil estabelecimentos agropecuários, sendo 170 mil vinculados ao extrativismo vegetal; 85% são pequenas propriedades familiares;
  • O açaí lidera a produção com 450 mil toneladas por ano (75% do total), seguido de babaçu (77 mil t) e castanha-do-brasil (27 mil t).

A produção extrativista vegetal na Amazônia Legal chega a cerca de 600 mil toneladas por ano, representando 73% da produção nacional do setor. As lavouras permanentes somam aproximadamente 1,8 milhão de toneladas, ou cerca de 3% da produção nacional, enquanto as lavouras temporárias correspondem a 11%, com 98,2 milhões de toneladas

O número de estabelecimentos sem acesso à energia elétrica varia significativamente entre os tipos de produção na Amazônia. O açaí lidera com 33.663 unidades, seguido pela castanha-do-pará, com 10.087 estabelecimentos. Produtos como babaçu (amêndoa) registram 7.339 estabelecimentos, babaçu (coco), 4.094, bacaba, 3.968, e buriti, 3.810. Outros produtos, como tucumã e pupunha (coco), contam com 2.686 e 2.163 estabelecimentos, respectivamente. Já palmito (açaí, pupunha etc.) apresenta 1.690 estabelecimentos, seguido de pequi com 1.477, cupuaçu com 1.378 e bacuri com 1.018 estabelecimentos sem energia elétrica. Esses dados evidenciam a predominância de pequenas propriedades produtoras de espécies nativas que enfrentam desafios significativos de acesso à infraestrutura energética.

Grande parte dessa produção está concentrada em áreas ribeirinhas, destacando a importância da logística fluvial para o escoamento e abastecimento das comunidades. Além disso, os dados apontam baixa diversidade produtiva em diversos municípios: 113 núcleos concentram-se na produção de apenas um produto e 118 produzem dois, com maior incidência nos estados do Maranhão, Pará e Tocantins. Essa realidade reforça a importância de investimentos em infraestrutura, apoio técnico e políticas voltadas para o fortalecimento da sociobiodiversidade.

“A partir desse grande estudo, é possível compreender que a correlação entre produção extrativista e exclusão energética é essencial para propor políticas públicas baseadas em dados, fortalecendo a economia da floresta em pé e garantindo a permanência e os direitos constitucionais das populações nos seus territórios”, explica Vinicius Oliveira da Silva, um dos autores. A análise utilizou principalmente dados do Censo Agropecuário de 2017, do Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos (CNEFE), disponibilizados em 2024, tratados e complementados pelo IEMA, e integra informações atualizadas até 2021 sobre a exclusão energética na região, também realizada pelo Instituto.

Produtores da floresta

As quatro principais formas de produção rural na Amazônia Legal são: extrativismo vegetal; produção agrícola em lavouras permanentes e temporárias; e silvicultura. A região tem cerca de 865 mil estabelecimentos agropecuários, dos quais 170 mil estão diretamente associados ao extrativismo vegetal. Cerca de 85% dessas unidades são pequenas propriedades familiares, responsáveis pela extração e cultivo de produtos como açaí (450 mil toneladas/ano), babaçu (77 mil toneladas) e castanha-do-brasil (27 mil toneladas). Notavelmente, 43% da produção ocorre em áreas menores que cinco hectares, e 54 mil toneladas são extraídas por extrativistas sem posse formal da terra, muitas vezes em áreas públicas ou protegidas.

Um retrato da produção na floresta revela que a grande maioria dos estabelecimentos é de pequeno porte: 74% ocupam menos de 20 hectares, e aproximadamente 50% possuem até 5 hectares. Por outro lado, os estabelecimentos com mais de 100 hectares representam apenas 0,5% do total. Entre os produtores extrativistas, 9% não têm terra própria. Esses dados evidenciam a predominância de pequenas propriedades e a situação de extrativistas sem posse de terra, ressaltando os desafios relacionados ao acesso à terra, à infraestrutura e à sustentabilidade das atividades produtivas na região.

Políticas públicas para a Amazônia

O mapeamento mostra que o fortalecimento da sociobioeconomia pode gerar efeitos multiplicadores: a preservação da floresta, o aumento da renda local, a segurança alimentar e a redução de desigualdades regionais. A correlação entre proximidade de rios e densidade produtiva reforça a necessidade de planejamento hidroviário integrado, garantindo escoamento seguro e sustentável da produção.

“O acesso inadequado à energia compromete o beneficiamento de produtos perecíveis, a utilização de maquinário, a agregação de valor e a inclusão produtiva dos povos e comunidades historicamente excluídos das políticas públicas nacionais”, conta Fabio Galdino dos Santos, também autor do estudo. Além da falta de energia, o estudo evidencia limitações nos instrumentos censitários. O Censo Agropecuário verifica apenas a presença ou ausência de eletricidade, sem qualificar potência, regularidade ou finalidade do uso. A ausência de dados detalhados dificulta o planejamento de políticas públicas eficazes voltadas à sociobioeconomia.

Vale ressaltar que a análise mostra os principais núcleos produtivos desconectados da malha rodoviária e ferroviária federal, voltada principalmente ao escoamento de commodities, reforçando desigualdades históricas.

O levantamento identifica oportunidades claras de intervenção. Entre elas estão a reformulação do Censo Agropecuário entre 2025 e 2026, a integração de dados territoriais com planejamento energético, e a ampliação do Programa Luz para Todos para atender demandas produtivas. Também são recomendados investimentos em infraestrutura logística, inclusão digital, assistência técnica e suporte às cadeias produtivas extrativistas.

A concentração da produção em núcleos estratégicos, especialmente no Pará, Amazonas e Maranhão, aponta oportunidades para o fomento de Arranjos Produtivos Locais (APLs), que podem se beneficiar de políticas públicas voltadas à inclusão energética e produtiva. Com dados desagregados e políticas estruturadas, é possível transformar a Amazônia Legal em um modelo de desenvolvimento sustentável baseado na sociobioeconomia, conciliando conservação ambiental, renda e bem-estar social.

Reconhecer o acesso à energia elétrica como vetor central da sociobioeconomia é essencial para reduzir desigualdades, promover cadeias produtivas sustentáveis e garantir que as políticas públicas sejam orientadas por evidências, fortalecendo a economia da floresta em pé e assegurando o bem-estar das comunidades locais”, completa Santos.

Deixe seu comentario

Ultimas Noticias

Categorias

Fique por dentro das novidades

Inscreva-se para receber novidades em seu Email, fique tranquilo que não enviamos spam!

Jeetwin

Jeetbuzz

Baji999

Deixe seu Email para acompanhar as novidades