ABCA leva à COP30 proposta com contribuição da Embrapa Agroenergia

O presidente da ABCA, Evaldo Vilela entrega o documento a Roberto Rodrigues, enviado especial para a agricultura na COP30, com a missão de apresentar uma pauta unificada do agro brasileiro na conferência climática em Belém. Foto: Divulgação
A Academia Brasileira de Ciência Agronômica (ABCA) apresentou oficialmente a sua contribuição estratégica para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – a Conferência das Partes (COP30), que está agendada para ocorrer em Belém, Pará, entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025. O documento, cujo título é “Bioeconomia das Conexões: Proposta da ABCA para a COP30″, tem como objetivo central propor diretrizes estratégicas que visam consolidar a ciência agronômica brasileira como um pilar essencial na transição para um modelo de bioeconomia que seja, simultaneamente, sustentável e inclusivo.
A proposta da ABCA foi elaborada por Maurício Antônio Lopes, pesquisador da Embrapa Agroenergia; José Oswaldo Siqueira, professor da Universidade Federal de Lavras; e Alfredo Homma, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental. O material foi formalmente entregue pelo presidente da ABCA, Evaldo Vilela, ao engenheiro agrônomo Roberto Rodrigues, que atua como enviado especial da área de Agricultura no âmbito da COP30.
Nova bioeconomia
O documento da ABCA sustenta que o Brasil reúne atributos singulares para liderar uma agenda global de agricultura sustentável, baseada na diversificação produtiva, no uso eficiente dos recursos naturais e na integração entre ciência, tecnologia, biodiversidade e energia.
Essa abordagem, denominada “bioeconomia das conexões”, é apresentada como um novo paradigma para a agricultura tropical: um sistema dinâmico que conecta cadeias produtivas, fontes de biomassa, inovação tecnológica e inclusão social, gerando prosperidade econômica e segurança ambiental.
Para o pesquisador Maurício Lopes, “a bioeconomia das conexões amplia a noção tradicional de bioeconomia ao reconhecer a importância de integrar sistemas agrícolas, florestais e energéticos em redes de inovação que valorizem a diversidade biológica e cultural do Brasil. É uma agenda que combina ciência, sustentabilidade e desenvolvimento territorial”.
Propostas estratégicas
O documento apresentado pela ABCA não se limita a um diagnóstico, mas estabelece um conjunto amplo e rigorosamente articulado de propostas estratégicas. O objetivo dessas propostas é fornecer orientação clara para políticas e investimentos necessários nas áreas de ciência e tecnologia, agricultura e bioeconomia, especificamente dentro do contexto global de transição climática e energética.
Um dos eixos centrais é o reconhecimento da ciência agronômica como uma infraestrutura crítica para o desenvolvimento sustentável do país. A ciência agronômica é considerada essencial e vital para a segurança alimentar, energética, ambiental e econômica do Brasil. Para manter esta infraestrutura, o documento sublinha a necessidade de garantir investimentos que sejam estáveis e de longo prazo em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Isso é vital para assegurar a continuidade da pesquisa tropical e para diminuir as vulnerabilidade e dependências externas do país.
A proposta defende, ainda, o fortalecimento substancial das instituições científicas que estão situadas na faixa tropical. Isso deve ser feito por meio da expansão das redes de pesquisa, da formação de recursos humanos altamente qualificados e da intensificação contínua dos intercâmbios internacionais, consolidando, assim, uma base sólida de conhecimento e inovação.
Em uma segunda frente, a ABCA propõe uma ampla transformação territorial e produtiva. A bioeconomia das conexões é colocada como o pilar estratégico para alinhar a biodiversidade, a ciência e a cultura nacional em arranjos produtivos que sejam inegavelmente sustentáveis. Esses arranjos devem ser capazes de orientar de maneira eficaz tanto os investimentos quanto as políticas de incentivo.
O documento defende o fomento a sistemas produtivos regenerativos, que conciliem eficiência, conservação ambiental e inclusão social, apoiados por mecanismos de financiamento, certificação e rastreabilidade. E recomenda aperfeiçoar os marcos regulatórios e ampliar instrumentos financeiros inovadores, de modo a criar ambientes institucionais favoráveis à sustentabilidade. Para isso, propõe a implantação de ecossistemas de inovação tropical em diferentes biomas, conectando universidades, centros de pesquisa, empreendedores e comunidades locais em polos de conhecimento e empreendedorismo verde.
O terceiro eixo estratégico foca na inclusão social e na renovação geracional. Isso envolve engajar ativamente jovens e novos perfis de produtores nos processos de inovação e regeneração territorial. O documento da ABCA ressalta a importância de expandir tanto a capacitação quanto o acesso às tecnologias que são sustentáveis, fortalecendo, assim, o protagonismo das novas gerações na construção de um futuro rural que seja mais dinâmico e resiliente. Também propõe reaproximar as populações urbanas da agricultura tropical, por meio de ações educativas, comunicação científica e incentivo ao consumo responsável, valorizando a origem dos alimentos e os sistemas produtivos sustentáveis.
Inserção global
Por fim, o quarto eixo estratégico diz respeito à inserção global e ao fortalecimento da soberania produtiva. Essa estratégia exige um aumento da resiliência do agronegócio brasileiro, bem como a diversificação estratégica de mercados e a diminuição da dependência de insumos considerados críticos. Essas ações devem estar associadas ao aprimoramento da inteligência de risco e de mercado.
O texto recomenda que a agricultura tropical amplie sua presença nos fóruns internacionais, projetando suas soluções como ativos globais de grande valor e, consequentemente, influenciando as normas e padrões internacionais de sustentabilidade. É enfatizada, adicionalmente, a necessidade de democratizar o acesso e o uso sustentável da biodiversidade, garantindo a justa repartição dos benefícios gerados e o respeito total aos direitos das comunidades tradicionais.
“O documento da ABCA é um chamado à ação”, destaca Maurício Lopes. “Ele reafirma o papel da ciência brasileira na busca de soluções integradas que unam produção, conservação e inovação, consolidando o Brasil como líder global na bioeconomia das conexões.”
O pesquisador da Embrapa Agroenergia conclui que “levar à COP30 uma contribuição dessa natureza reafirma o compromisso da comunidade científica com o desenvolvimento sustentável e a responsabilidade do Brasil em propor caminhos inovadores para um futuro de baixas emissões e alta inclusão social”.

									 
					




