Adiamento da assinatura do Acordo Mercosul-União Europeia frustra indústria, avalia CNI
Apesar do anúncio de postergação, CNI mantém confiança na assinatura em janeiro. Para o setor, acordo é oportunidade de integrar estrategicamente o Brasil a um dos maiores mercados do mundo

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) demonstra preocupação com o recuo na assinatura do Acordo Mercosul-União Europeia, após mais de 25 anos de negociações, mas acredita que ainda há espaço para diálogo e espera que as condições políticas necessárias para a assinatura sejam construídas até o início do próximo ano. A expectativa era de que o tratado fosse formalizado neste sábado (20), durante a 67ª Cúpula dos Chefes de Estado do Mercosul, mas a ausência de consenso entre os países europeus adiou a conclusão de um acordo considerado estratégico para a economia dos países envolvidos.
Com benefícios a ambos os blocos, o texto negociado reflete um equilíbrio relevante entre interesses econômicos, sociais e ambientais e permanece como uma base sólida para a conclusão do processo. Para a indústria brasileira, a entrada em vigor do acordo representa uma oportunidade de ampliar a inserção internacional do país, atrair investimentos, estimular ganhos de produtividade e fortalecer a competitividade. Só em 2024, a cada R$ 1 bilhão exportado do Brasil para a UE foram criados 21,8 mil empregos, movimentados R$ 441,7 milhões em massa salarial e outros R$ 3,2 bilhões em produção.
“Adiar a assinatura do acordo neste momento é motivo de frustração, especialmente diante do longo histórico de negociações, mas esperamos que o empenho em firmar essa parceria seja mantido para que o processo seja concluído o quanto antes, em benefício de uma integração econômica do Mercosul com a União Europeia”, avalia o presidente da CNI, Ricardo Alban.
A CNI atua de forma contínua e estratégica em defesa do acordo, especialmente por meio da Coalizão Empresarial Brasileira (CEB), que reúne entidades representativas de diversos setores da economia e tem contribuído para a construção de consensos e propostas equilibradas.
É preciso manter agenda ativa de inserção internacional
Diante do adiamento, a CNI destaca a importância de o Brasil seguir avançando na agenda de inserção internacional, tanto com a UE quanto com outros parceiros estratégicos. A celebração de acordos comerciais continua sendo um instrumento fundamental para ampliar exportações, reduzir barreiras, aumentar a previsibilidade regulatória e fortalecer a competitividade das empresas brasileiras.
Nesse cenário, ganham ainda mais relevância as negociações em andamento com países como Canadá e México e o lançamento de negociações com parceiros da América Central e o Reino Unido, além do aprimoramento de acordos já existentes. Para a indústria, é essencial que o Brasil adote uma estratégia pragmática e consistente de diversificação de mercados, ampliando sua participação no comércio internacional e reduzindo vulnerabilidades externas.
Acordo é importante para previsibilidade e investimentos
Além dos benefícios comerciais, o acordo Mercosul-UE estabelece regras modernas em áreas como desenvolvimento sustentável, propriedade intelectual, facilitação de comércio e normas sanitárias, contribuindo para um ambiente de negócios mais previsível e alinhado às melhores práticas internacionais. O documento prevê, ainda, oferta de cooperação científica e tecnológica da UE para os países do Mercosul que pode se traduzir em projetos conjuntos de P&D em áreas de fronteira, como tecnologias de captura de carbono, uso industrial de C02, reciclagem e reuso de baterias e minerais críticos.
A União Europeia é o principal investidor estrangeiro no Brasil, respondendo por 31,6% do estoque de investimento produtivo externo em 2023, o equivalente a US$ 321,4 bilhões. Já o Brasil é o maior investidor latino-americano no bloco. Esse vínculo reforça a importância de concluir o acordo e aprofundar uma relação econômica sólida e madura.
Parceria Brasil-União Europeia permanece estratégica
Em 2024, o bloco da União Europeia respondeu por 14,3% das exportações brasileiras (US$ 48,2 bilhões) e por 17,9% das importações (US$ 47,2 bilhões), se consolidando como o segundo principal parceiro comercial do país.
A indústria é um pilar central dessa relação. Em 2024, 98,4% das importações brasileiras vindas da UE foram de produtos da indústria de transformação, essenciais para o acesso a insumos, tecnologias e bens de maior valor agregado. Nas exportações brasileiras ao bloco, 46,3% foram bens industriais. Apesar de ser uma participação relevante, a indústria de transformação vem perdendo espaço nas exportações brasileiras para o bloco europeu, cenário que pode ser revertido com o acordo.






