Baterias solares e sistemas híbridos: o futuro da transição energética

A combinação entre tecnologias de armazenamento mais baratas e o avanço da energia solar está mudando, na prática, como o Brasil produz e consome eletricidade. A queda dos custos das baterias, hoje em torno de US$ 115/kWh no mercado global, abre espaço para aplicações em residências, comércios e indústrias. No Brasil, o avanço é impulsionado pelo crescimento da energia solar, que em 2025 ultrapassou 60 GW de potência instalada, consolidando-se como a segunda maior fonte da matriz elétrica e responsável por mais de 70 TWh em 2024, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

Nesse cenário, as baterias permitem armazenar a energia captada durante o dia para uso em horários de maior tarifa ou em situações de instabilidade da rede, reduzindo custos e aumentando a autonomia. Já os sistemas híbridos, regulamentados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) desde 2021, unem diferentes fontes — como solar, eólica e a própria rede — para otimizar a entrega e garantir estabilidade mesmo em períodos de baixa geração.

O Brasil começa a avançar também no campo regulatório. A Lei 14.300/2022 estabeleceu regras para a geração distribuída e reforçou a atratividade do armazenamento no autoconsumo. Em 2025, a ANEEL deu novos passos para retirar barreiras à contratação de baterias e o MME analisa a inclusão de projetos de armazenamento em leilões de capacidade. Um estudo da EPE projeta que as baterias devem liderar o mercado nacional de armazenamento até 2034, com destaque para unidades do Grupo A e para quem adota a Tarifa Branca.

Hoje, já contamos com cerca de 685 MWh de capacidade instalada de BESS no país, número que cresce em torno de 29% ao ano. Grande parte desse potencial ainda está em sistemas isolados ou regiões remotas, mas a projeção é ambiciosa: movimentar até R$ 22,5 bilhões até 2030.

Confesso que, depois de acompanhar esse movimento nos últimos anos, vejo o crescimento da tendência dos BESS como um divisor de águas tecnológico. Não se trata apenas de manter as luzes acesas em horários de pico. É sobre abrir espaço para setores inteiros repensarem sua operação de  indústrias que buscam reduzir a dependência da rede, passando por agronegócios em áreas remotas e até data centers que não podem parar nem por um segundo.

Em residências, a bateria permite consumir energia nos horários de ponta, quando a tarifa é mais cara. Para empresas, reduz demanda contratada e garante continuidade em eventuais falhas da rede. Já nas usinas, a integração de solar, eólica e baterias aumenta o fator de capacidade e aproveita melhor a infraestrutura de conexão.

Os benefícios vão desde segurança energética, redução de custos no médio prazo, integração de renováveis, até alívio para o sistema elétrico. Apesar disso, os desafios no cenário brasileiro ainda incluem o custo inicial, a necessidade de padronização técnica e soluções para o ciclo de vida das baterias. Mas, com a queda global de preços e avanços regulatórios, essas barreiras tendem a diminuir.

Mais que tendência, baterias solares e sistemas híbridos começam a se firmar como parte essencial da infraestrutura elétrica brasileira, combinando inovação tecnológica, economia e sustentabilidade para um futuro energético mais limpo e confiável — e o que vem depois, é só questão de tempo.

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