CBA 2025: Agroalianças são fundamentais para o protagonismo do Brasil no comércio global
As agroalianças estratégicas são fundamentais para garantir o protagonismo do Brasil no comércio internacional. Diante do atual cenário geopolítico e das tensões globais, o país deve ser flexível e adotar uma postura de cooperação com diversas nações, sem se posicionar em lados antagônicos. Essa foi uma das avaliações do Embaixador Roberto Azevêdo, diretor geral da OMC (2013-2020), consultor da ABAG, presidente da 9G Consultoria e presidente Global de Operações da AMBIPAR, durante a palestra inaugural “Agroalianças e o Futuro”, do 24º Congresso Brasileiro do Agronegócio , uma realização da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), em parceria com a B3 – a bolsa do Brasil , que acontece nesta segunda-feira (8/11).
“O Brasil não pode permitir que qualquer país escolha o lado em que devemos estar. Precisamos de flexibilidade para formar alianças estratégicas e deixar de falar sozinhos. O futuro do agronegócio e do comércio global exige uma abordagem colaborativa, em que uma iniciativa privada deve também criar seus próprios canais de relacionamento comercial, expandindo suas redes de conexão”, afirmou Azevêdo.
Segundo o Embaixador, o papel do governo é fundamental, mas não é suficiente para o Brasil atingir seu pleno potencial no mercado global. A iniciativa privada, especialmente o setor agropecuário, precisa ser proativa e buscar novas parcerias comerciais para ampliar sua presença no exterior. Nesse sentido, ele destacou que as agroalianças, entendidas como parcerias entre países, empresas e setores produtivos, são essenciais para fortalecer a posição do Brasil como líder em segurança energética e alimentar.
“O Brasil possui um agro tropical, único, com altíssima competitividade, qualidade e capacidade de produção em grande escala. No entanto, enfrentamos um desafio maior: promover essas agroalianças. É crucial que o setor seja una para garantir sua relevância no comércio global, mostrando que somos uma parte essencial da solução”, ponderou Azevêdo, destacando a importância de o Brasil ser visto como um parceiro estratégico no cenário internacional.
Solenidade de abertura
Na abertura do CBA 2025, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da ABAG, avaliou que as perspectivas globais para a próxima década são de grande complexidade, com uma nova ordem mundial, marcada pelo enfraquecimento do multilateralismo e fortalecimento do protecionismo e unilateralismo. “A geopolítica está no centro das decisões globais e as recentes tarifas refletem esse processo de reposicionamento estratégico dos Estados Unidos. Assim, é urgente o diálogo e a criação de alianças para garantir o equilíbrio”, disse.
O agronegócio brasileiro vem sendo construído com a argamassa da ciência, a competência e a dedicação de pessoas, sendo responsável pela geração de empregos, pelo superávit da balança comercial e pelos resultados do PIB nacional, além de contribuir para reduzir as emissões de gases poluentes. “Hoje, estamos entregando o documento “Agronegócio frente às Mudanças Climáticas”, posicionamento oficial do agronegócio brasileiro para a COP30, cujo objetivo é reiterar o papel do agro como parte da solução para os desafios do clima e o protagonismo do Brasil, pois nosso setor alia sustentabilidade, práticas inovadoras, produtividade, valorizando aspectos econômicos e as comunidades envolvidas”.
A biocompetitividade é outro ponto importante para o país, assim como alianças com países, empresas e produtores, que serão fundamentais, na avaliação do presidente da ABAG, ao setor privado e produtivo. Para ele, é importante ainda estar atento às incertezas internacionais que interferem nas decisões de investimentos e nos desafios externos.
Carvalho ressaltou que o Brasil é o país do agrocompetitivo, com produção de energia e de alimentos em larga escala, alta produtividade e com práticas ambientais. “Os sistemas energéticos precisam ser resilientes, flexíveis, eficientes para a transição, garantindo os insumos críticos. O mundo despertou pra novas e complexas perguntas e o Brasil pode dar as respostas, construindo pontes construir pontes com os Estados Unidos, com a China e com outras nações, beneficiando a segurança alimentar e energética”, finalizou.
Gilson Finkelsztain , CEO da B3, enfatizou o papel do Brasil como uma potência no mercado de capitais. “Apesar do momento delicado, o Brasil continua sendo um líder em liquidez e incertezas no mercado de capitais. Este evento representa uma chance de abrir novos caminhos para destravar o potencial do setor agropecuário”, afirmou Finkelsztain, destacando números recentes que comprovam a resiliência e a força do mercado financeiro no agronegócio brasileiro, como os R$ 588 bilhões captados em Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), o crescimento de 32% das Cédulas de Produto Rural (CPR), atingiu R$ 418 bilhões, no ano passado e o estoque de R$ 360 milhões de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs).
“Esses números são uma clara demonstração de liquidez no mercado, o que gera incertezas para o setor. Temos uma grande oportunidade de expandir e criar novas alternativas para os investidores e produtores”, completou Finkelsztain.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas , destacou a importância do agronegócio para a economia paulista, com 40% das exportações do estado sendo oriundas do setor. O governador reforçou o compromisso do estado com o agronegócio, destacando ações externas para titulação de terras, crédito ao produtor, manutenção das estradas e programas como a revitalização de pastagens.
A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) está abrindo um novo espaço em Washington, que irá somar aos três escritórios da Agência nos Estados Unidos. Essa iniciativa anunciada, durante o CBA, por Jorge Viana , presidente da ApexBrasil, tem o objetivo de representar os setores afetados pela tarifaço, defendendo os interesses nacionais. Esse trabalho será feito em conjunto com a Amcham e por meio de contratação de consultorias especializadas.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema reforçou que o agronegócio mineiro, em 2024, exportou mais do que a atividade de mineração no estado. “Contamos com uma produção agrícola planejada e as pastagens mineiras estão sendo recuperadas e transformadas em áreas produtivas sem desmate. Hoje o estado está em fase de crescimento e o Agronegócio faz parte deste avanço”, disse.
Em sua fala, Guilherme Campos , secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária, reforçou que a responsabilidade do Brasil é consolidar ainda mais a liderança do agro, por meio da abertura de novos mercados e da agregação de valor aos agricultores brasileiros, como café e cana-de-açúcar. Já o deputado federal Arnaldo Jardim , vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), ressaltou que o grupo está acompanhando de perto os desafios geopolíticos e econômicos, especialmente no que diz respeito ao tarifaço e ao equilíbrio fiscal, além de aspectos relacionados ao financiamento, logística e a COP30.
A solenidade de abertura contorno ainda com as participações de Alberto Amorim , secretário-executivo da Secretaria de Agricultura de São Paulo; do Embaixador Alexandre Parola ; Antonio Mello Alvarenga Neto , presidente da Sociedade Nacional da Agricultura (SNA); Marcelo Regunaga , coordenador do Grupo de Países Produtores do Sul e ex-ministro da Agricultura da Argentina; Roberto Rodrigues , conselheiro da ABAG e enviado Especial para Agricultura da COP30; embaixador Rubens Barbosa ; e de Silvia Massruhá , presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).