Clima e Biodiversidade: Conexões Profundas e Desafios Urgentes
Por Adriana Graziela de Moraes e Tiago Egydio* Fundação Eco
Desde a assinatura da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) em 1992, as Conferências das Partes (COPs) têm sido momentos cruciais para definir compromissos globais na preservação da biodiversidade. A cada edição, as COPs reúnem líderes, cientistas e representantes da sociedade civil de todo o mundo para discutir ameaças à biodiversidade e estabelecer metas ambiciosas para conservação e uso sustentável dos recursos naturais. No entanto, a sigla COP tornou-se mais conhecida pelas discussões climáticas do que pelas discussões sobre biodiversidade.
Ressaltamos que um ecossistema possui componentes abióticos, como água, solo e rochas, e componentes bióticos, que seriam todos os seres vivos. O funcionamento de um ecossistema deriva da interação entre esses componentes, e é justamente por essa troca que podemos afirmar que os seres vivos estão inseridos dentro de um ambiente repleto de vários ciclos químicos diferentes, como do carbono, por exemplo. Sagrada fotossíntese, venha a nós o vosso açúcar!
Esse apontamento é relevante, pois percebemos que discussões e esforços destinados por países, iniciativa privada e entidades do terceiro setor para as COPs da biodiversidade não têm sido os mesmos para as COPs sobre mudanças climáticas. Em outubro, a cidade de Cali, na Colômbia, sediará a COP 16. Estamos em um momento de transição, em que ocorreu o fim das metas de Aichi que foram definidas na COP 10, realizada em Nagoya, Japão, compromisso em que foi definido o Protocolo de Nagoya e do Plano Estratégico para a Biodiversidade 2011-2020, agora estamos em um novo Marco Global de Biodiversidade, definido na COP 15 Kunming-Montreal.
As expectativas para a COP16 estão principalmente focadas na implementação do Marco Global de Biodiversidade, adotado na COP anterior. Isso significa que os países vão precisar operacionalizar e monitorar o cumprimento das novas metas de biodiversidade até 2030, garantindo ações concretas em áreas-chave como conservação, restauração e uso sustentável.
Nesse contexto, a COP16 assume grande relevância, especialmente no que diz respeito às metas 2 e 3 do Marco Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal. A primeira meta propõe a restauração de 30% de ecossistemas degradados, com a finalidade de melhorar a biodiversidade, as funções e os serviços ecossistêmicos, a integridade ecológica e a conectividade da paisagem. A meta 3 trata da conservação de 30% dos ecossistemas terrestres de águas continentais, costeiras e marinhas.
A expectativa é que os países apresentem planos ambiciosos e detalhados para restaurar esses ecossistemas até 2030, contribuindo para a recuperação da biodiversidade e a mitigação das mudanças climáticas. Essa meta é crucial para reverter a perda de biodiversidade e criar paisagens resilientes, capazes de suportar as pressões ambientais e socioeconômicas.
Além disso, espera-se que mecanismos financeiros para financiamento e cooperação internacional também sejam viabilizados neste evento, visando alcançar as metas propostas. Como as soluções baseadas na natureza podem contribuir para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
A integração da biodiversidade em todos os setores da economia, como agricultura, pesca, silvicultura e turismo, a fim de garantir um desenvolvimento verdadeiramente sustentável, será outro tópico importante para debate. Para isso, é fundamental integrar os direitos e o conhecimento dos Povos Tradicionais e comunidades locais nos processos de tomada de decisão e proteção dos ecossistemas.
Outra expectativa está em relação ao alinhamento dos compromissos corporativos com o Marco Global de Biodiversidade (meta 15). Aqui, as empresas precisam se comprometer a alinhar suas operações e cadeias de valor com as metas globais de biodiversidade, buscando o uso sustentável dos recursos naturais e a proteção dos ecossistemas, garantindo que sejam monitorados, avaliados e divulgados de forma transparente seus impactos sobre a biodiversidade.
É fundamental que esse compromisso esteja ligado à transparência, com as empresas relatando seus impactos na biodiversidade por meio de padrões e métricas comuns que possibilitem a comparação e a responsabilização. A participação delas no financiamento e em parcerias público-privadas também pode impulsionar a agenda de restauração dos ecossistemas, incentivando a circularidade e a sustentabilidade em todas as etapas das cadeias de valor.
As COPs da Biodiversidade têm desempenhado papel essencial na construção de uma agenda global para a conservação da vida no planeta. À medida que nos aproximamos da COP 16, o mundo está em uma encruzilhada: as decisões tomadas agora determinarão o sucesso ou fracasso das metas ambiciosas estabelecidas. A comunidade internacional deve, mais do que nunca, mostrar liderança e comprometimento com a proteção da biodiversidade, garantindo um futuro sustentável para as próximas gerações. Não menos importante, as empresas deverão assumir a agenda de biodiversidade alinhada aos compromissos estabelecidos no Marco Global de Biodiversidade, garantindo que as empresas assumam suas responsabilidades na proteção dos ecossistemas e promovam práticas sustentáveis em suas operações e cadeias de valor.
Não sabemos se ter esperança pode ser ingênuo, mas, dadas as propostas em discussão, pode-se dizer que as expectativas foram elevadas!
*Adriana é geografa e coordenadora da Fundação Eco+ e Tiago é biólogo e gerente da Fundação Eco+