Com 30% da Amazônia brasileira, Pará pode receber R$ 116 bilhões em investimento até 2040 para transição para paisagens regenerativas
Segundo estudo do BCG, MAPA, SEMAS – Pará, WBCSD e CEBDS, estado tem 8,8 milhões de hectares com potencial para ações de recuperação de terras
Um novo relatório do Boston Consulting Group (BCG), em colaboração com o Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil (MAPA), a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Estado do Pará (SEMAS), o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) e o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), revela que a transição para paisagens regenerativas no estado do Pará representa uma oportunidade total de investimento de R$ 116 bilhões até 2040, com média de 19% rentabilidade do investimento ao longo do tempo. Essa transformação pode impulsionar o desenvolvimento sustentável da região e servir como um modelo escalável para toda a Amazônia.
Para atingir esse potencial, o estudo intitulado “Resiliência para o Futuro: Caminhos viáveis para paisagens regenerativas na Amazônia” aponta a necessidade de adoção de práticas agrícolas e de bioeconomia mais resilientes, conciliando o aumento de produtividade com sustentabilidade. Contudo, a Amazônia, que abrange quase 60% do território nacional e influencia cerca de 70% do PIB da América do Sul, enfrenta desafios críticos. O Pará, detentor de 30% da Amazônia brasileira e maior PIB dos estados com esse bioma, por exemplo, já teve 20% de sua área desmatada – aproximadamente 24 milhões de hectares – e a conversão de terras saltou 69% nos últimos cinco anos.
Além disso, as mudanças climáticas estão afetando colheitas e cadeias de suprimentos, ameaçando o sustento dos agricultores e a segurança alimentar global. Cerca de um terço das emissões globais provém de sistemas agroalimentares e mudanças no uso da terra. Somado a isso, há um custo oculto de US$ 12 trilhões pela inação na capacidade de adaptação.
A pesquisa revela ainda que 95% dos entrevistados estão preocupados com pragas, 94% com secas e 92% com escassez de mão de obra. Por outro lado, 58% dos pecuaristas e 39% dos agricultores citam os altos custos como barreira fundamental de acesso ao crédito. Segundo Arthur Ramos, diretor executivo e sócio do BCG, esses são dois dos quatro desafios principais da expansão da agricultura regenerativa no Pará.
“A ativação dos agricultores exige uma mudança de mentalidade e supera barreiras como a falta de assistência técnica de alta qualidade e o ceticismo sobre a viabilidade econômica. Ao mesmo tempo, o financiamento da transição, que demanda investimentos iniciais significativos e apresenta retornos financeiros tardios, tornam o crédito caro ou inacessível. A verificação de práticas e resultados também é um impeditivo, pois trata-se de um processo complexo e custoso que carece de métricas padronizadas, dificultando o acesso a mercados premium e incentivos, assim como a regularização fundiária na região, que impõe entraves à comprovação de conformidade na aquisição e uso das terras, com parte relevante do território amazônico permanecendo sem titularidade definida ou reconhecida, o que dificulta investimentos na região”, explica Ramos.
Para conter o desmatamento e avançar no uso sustentável de seus recursos naturais, o levantamento mostra que agricultores e comunidades locais precisam de acesso a crédito e expertise técnica para escalar seus esforços. Ao mesmo tempo, a conformidade com a legislação é essencial para gerar confiança nos investidores.
Potencial do Pará
De acordo com o relatório, o Pará tem 8,8 milhões de hectares com potencial para ações regenerativas. Desses, 6,8 milhões de hectares de pastagens são economicamente viáveis para reforma ou melhoria, oferecendo rentabilidade de 12 a 16% e períodos de retorno de oito a 11 anos. Além disso, 0,6 milhão de hectares mostra ganhos viáveis sob sistemas agroflorestais de cacau, com 15 a 22% de lucratividade, recuperados em sete a nove anos.
Dentre os 156 agricultores no Pará pesquisados, 90% expressaram otimismo sobre o futuro de suas fazendas até 2030, sendo que 65% acreditam que sua produção em 2025 superará os níveis de 2024, reforçando uma forte crença na resiliência individual e na capacidade de crescimento.
O Enviado Especial para Bioeconomia da COP30 e conselheiro do WBCSD e CEBDS, Marcelo Behar, destaca que “o Pará tem potencial para se tornar um polo global de bioeconomia, combinando conservação florestal com geração de renda. O relatório estima que sistemas agroflorestais de cacau, por exemplo, podem gerar até R$ 33,4 mil por hectare em valor líquido. Essa transformação pode beneficiar mais de 80 mil agricultores familiares e comunidades locais, promovendo inclusão produtiva com base em ativos florestais e práticas sustentáveis – e assim contribuindo para a produção resiliente de uma commodity que vem sofrendo os impactos diretos das mudanças climáticas.”
“Com ações direcionadas, o Pará poderia emergir como uma referência global para paisagens regenerativas e sociobiodiversidade. Essa transição pode impulsionar o desenvolvimento sustentável da região e servir como um modelo escalável para toda a Amazônia”, finaliza Juliana Lopes, diretora de Natureza e Sociedade do CEBDS.
O estudo completo está disponível no site do BCG.