Conexão Abisolo 2025 abre debate sobre biofertilizantes e insumos de base orgânica
Primeiro dia do evento reuniu especialistas, pesquisadores e autoridades para discutir inovação, sustentabilidade e competitividade no setor agrícola
A primeira edição do Conexão Abisolo 2025 teve início nessa quarta-feira (22/10), com a apresentação dos cenários econômico e científico do setor de insumos agrícolas. Realizado pela Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo), o evento unifica o II Fórum de Fertilizantes de Matriz Orgânica e o III Simpósio de Biofertilizantes com o objetivo de promover a colaboração entre indústria e academia, premiando pesquisas inovadoras em biofertilizantes e insumos de base orgânica.

Com a presença do presidente do Conselho Deliberativo da Abisolo, Roberto Levrero, do Deputado Estadual, Lucas Bove (PL), e do secretário executivo da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Alberto Amorim, a mesa de abertura deu início aos painéis temáticos do primeiro dia do Conexão Abisolo 2025, realizado em Campinas (SP).

De acordo com Levrero, o setor de biofertilizantes é um setor de resiliência, de tecnologias modernas e sustentáveis, de economia circular e segurança alimentar na prática, não só no discurso. “A Abisolo representa todos os nove segmentos de insumos para agricultores. Nosso esforço é um compromisso com a agricultura no Brasil, destacando a importância de fomentar políticas públicas e tecnologias que beneficiem o setor e a sociedade como um todo”, disse.
Além da programação de palestras, o destaque do evento é o reconhecimento da produção acadêmica no setor com a realização do III Simpósio de Biofertilizantes, que irá premiar contribuições acadêmicas e da indústria que impulsionam o desenvolvimento de novas tecnológicas para a agricultura. Os trabalhos vencedores das categorias Mérito Acadêmico e Mérito Inovação serão divulgados nessa quinta-feira (23/10) e irá premiar os autores dos trabalhos vencedores de cada categoria com o valor de R$ 5.000,00.
Panorama
Palestrantes do painel Biofertilizantes e mitigação de estresses
As palestras de Pedro Veillard Farias e Renato Buranello marcaram a abertura do fórum do Conexão Abisolo 2025, trazendo reflexões sobre planos do governo e segurança jurídica no agronegócio. Os dois especialistas trouxeram visões complementares sobre os desafios e caminhos para fortalecer o setor nos próximos anos.
O superintendente de Novas Economias da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Pedro Veillard, apresentou o Centro de Excelência em Fertilizantes e Nutrição de Plantas (CEFENP), nova instituição estratégica liderada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). A iniciativa busca reduzir a dependência brasileira de fertilizantes importados e promover a autonomia tecnológica do país até 2050, como parte do Plano Nacional de Fertilizantes (PNF).
“A meta global do PNF é reduzir a alta dependência de insumos importados, que atualmente chega a cerca de 85%. Nossa meta é, até 2050, reduzir essa dependência para 50%”, detalhou Veillard. Ele explicou que o PNF está em desenvolvimento com ampla participação dos setores público e privado, e que estão sendo criados hubs regionais temáticos para fomentar pesquisa e inovação aplicada em fertilizantes e bioinsumos, atuando como extensões do CEFENP.
Na sequência, o advogado e doutor em Direito Comercial, Renato Buranello, fundador do Instituto Brasileiro de Direito do Agronegócio (IBDA), abordou o crescente número de pedidos de recuperação judicial por produtores rurais pessoa física, tema que tem despertado atenção no setor.
Buranello destacou que fatores como mudanças climáticas, variação de preços de insumos e conflitos internacionais têm pressionado os produtores, que buscam novas formas de financiamento. “Queremos ficar menos dependentes do crédito rural oficial e termos alternativas de crédito privado e entrada nos mercados de capitais”, afirmou.
Ele alertou, no entanto, que o processo de recuperação judicial é oneroso e complexo, exigindo equilíbrio e capacitação do Judiciário. “Precisamos criar um fórum da recuperação do produtor rural e fortalecer o diálogo com o poder judiciário para que compreenda as particularidades do agronegócio”, concluiu Buranello.
Biofertilizantes
A palestra do cientista e professor titular da Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual Paulista (UNESP) em Botucatu, Carlos Alexandre Crusciol, deu início ao primeiro painel do dia, com o tema “Biofertilizantes e mitigação de estresses”. Com a palestra “Como o Ascophyllum nodosum diminui efeitos de estresses bióticos e abióticos em gramíneas, uma experiência prática”, Crusciol apresentou os efeitos dos bioestimulantes nas plantas, destacando o papel dessas substâncias no fortalecimento da fisiologia vegetal.
“Os bioestimulantes atuam como ativadores do metabolismo das células, conferindo maior vigor ao sistema imunológico e reativando processos fisiológicos nas diferentes fases de desenvolvimento”, explicou. Entre os benefícios observados estão o estímulo ao crescimento radicular, a indução da formação de tecidos e a melhoria da absorção de nutrientes.
O pesquisador ressaltou ainda que o uso de bioestimulantes é uma tecnologia complementar aos fertilizantes de base, e não uma substituição. “Na folha é onde temos várias oportunidades. Aplicar na folha, definir o estágio e colher os resultados é um bom caminho a percorrer”, afirmou. Crusciol enfatizou que os biofertilizantes contribuem para preparar as plantas contra os efeitos do estresse abiótico, como seca, salinidade e variações de temperatura. “Essas substâncias não evitam o estresse, mas fazem com que a planta o administre melhor”, ressaltou.
Na sequência, o professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Marciel Stadnik, abordou o uso de macroalgas como fonte de biofertilizantes, apresentando um panorama sobre as espécies utilizadas no Brasil e no exterior. Em sua palestra “Novas perspectivas para obtenção e uso de macroalgas”, ele abordou o potencial dos extratos dessas algas na mitigação de estresses abióticos, como seca, calor excessivo e geadas.
“Em situações de estresse hídrico, excesso de calor ou frio, os extratos ajudam a reduzir significativamente as perdas de rendimento, tornando-se uma ferramenta extremamente valiosa para a agricultura”, explicou. Stadnik também ressaltou que a forma de processamento influencia diretamente os resultados agronômicos.
O tema dos compostos naturais também foi aprofundado pelo professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Átila Mógor, em sua palestra “Aminoácidos livres como moléculas sinalizadoras”. O pesquisador explicou como esses compostos, produzidos naturalmente pelas plantas ou aplicados via biofertilizantes, participam das respostas de adaptação a condições adversas, como estresse hídrico, térmico ou salino.
“A planta naturalmente produz aminoácidos, inclusive muitos além dos 20 que formam proteínas. Alguns deles funcionam como moléculas sinalizadoras, participando das respostas de adaptação ao estresse”, afirmou. Mógor destacou ainda que a aplicação de biofertilizantes pode estimular esses processos e favorecer o desempenho das lavouras, especialmente diante das mudanças climáticas.
Encerrando o painel, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Daniel Zandonadi, apresentou atualizações sobre o uso de substâncias húmicas. Ele explicou que esses compostos, provenientes de diferentes materiais orgânicos, variam em composição e efeitos conforme a espécie vegetal e a concentração aplicada.
Entre os benefícios observados estão o estímulo ao enraizamento, o aumento da absorção de nutrientes e a melhoria da fotossíntese. “Existem vários tipos de substâncias húmicas e cada uma pode provocar respostas distintas, influenciadas também pela concentração aplicada”, explicou Zandonadi. Ele também citou estudos conduzidos no Brasil e nos Estados Unidos que demonstram ganhos expressivos de produtividade, especialmente em culturas como o milho. “Hoje, o tema já faz parte da rotina de professores, consultores e produtores, e está incorporado à pesquisa e ao mercado”, resumiu.
Insumos orgânicos
As palestras que integraram o segundo painel do dia abordaram o tema “Insumos de Base Orgânica”, demonstrando como práticas sustentáveis, bioinsumos e fertilizantes organominerais vêm transformando a competitividade da agricultura brasileira. O primeiro a se apresentar foi o diretor financeiro e sócio fundador da Abrafrutas, Luiz Roberto Barcelos, com a palestra “Como os bioinsumos garantem competitividade às frutas brasileiras no mercado internacional”.
Ele falou sobre o papel decisivo do controle biológico na fruticultura. “A competitividade das frutas brasileiras passou a depender da adoção de práticas sustentáveis e do uso de bioinsumos”. Barcelos citou o uso de parasitoides para controle de pragas, que resultou em solo e plantas mais saudáveis, além de elevar a qualidade das frutas. “O uso de bioinsumos deixou de ser apenas uma estratégia comercial e passou a ser uma estratégia de diferenciação e competitividade, também no mercado interno”, completou.
Em seguida, o pesquisador da Embrapa, Wagner Bettiol, conduziu a palestra “Bioinsumos: mais do que agentes de biocontrole”. Ele reforçou que a qualidade do solo e a biodiversidade são essenciais para o controle biológico natural: “Quando há um solo saudável, o controle biológico se faz sozinho”.
Bettiol listou os principais fatores para o crescimento do controle biológico no Brasil, incluindo restrições químicas, demanda por alimentos livres de resíduos e mudanças climáticas. “Os 100% dos grandes produtores brasileiros utilizarão microrganismos nos próximos cinco anos e os produtos biológicos ocuparão metade do mercado de pesticidas em menos de 25 anos”, projetou Bettiol.
Encerrando o painel, o pesquisador da Embrapa Trigo, Fabiano Daniel De Bona, apresentou a palestra “Eficiência no uso de Fertilizantes de Matriz Orgânica”, destacando o papel histórico desses fertilizantes e sua contribuição para a sustentabilidade da produção de trigo.
Ele explicou que a eficiência depende de fonte correta, dose correta, local correto e época correta. “Essa prática garante sustentabilidade e produtividade”, disse. De Bona reforçou ainda a necessidade de adoção ampla de fertilizantes organominerais e melhor manejo da adubação para aumentar a produtividade e rentabilidade das lavouras.
O Conexão Abisolo 2025 continua nesta quinta-feira (23/10), com a apresentação de mais dois painéis temáticos e a premiação dos vencedores do III Simpósio de Biofertilizantes, reconhecendo as pesquisas e iniciativas mais inovadoras do setor, além de reforçar o compromisso do evento com a integração entre indústria e academia.
Sobre o Conexão Abisolo
O Conexão Abisolo reúne dois eventos já consolidados no setor: o II Fórum Abisolo de Fertilizantes de Matriz Orgânica e o III Simpósio de Biofertilizantes. A programação contará com painéis temáticos realizados na plenária, workshops e uma área de exposição, criando um ambiente favorável à troca de conhecimento, conexões profissionais e atualização técnica.
Entre os principais temas abordados estarão as tendências mais relevantes no uso de insumos de matriz orgânica e biofertilizantes, além de discussões sobre políticas públicas, assuntos regulatórios e palestras técnicas voltadas às inovações que impulsionam o desenvolvimento do setor.
Serviços:
Data: 22 e 23 de outubro 2025
Local: Centro de Convenções do EXPO DOM PEDRO
Endereço: Avenida Guilherme Campos, 500 – Bloco II – Jardim Santa Genebra, Campinas/SP
Saiba mais: http://conexaoabisolo.abisolo.