Dados e Agricultura Sustentável do Brasil: Por que precisamos fazer a tarefa de casa e atender as Regras Globais

Dados e Agricultura Sustentável do Brasil: Por que precisamos fazer a tarefa de casa e atender as Regras Globais

Dados e Agricultura Sustentável do Brasil: Por que precisamos fazer a tarefa de casa e atender as Regras Globais

Por Luís Eduardo Pacifici Rangel, membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), Engenheiro Agrônomo, Ex-Secretário de Defesa Agropecuária e Ex-Diretor de Análise Econômica e Políticas Públicas do MAPA

A agricultura brasileira é uma das mais produtivas do mundo. Com clima tropical, solos diversos e um setor produtivo altamente eficiente, o Brasil se destaca em diversas cadeias, como soja, carne e florestas plantadas. Mas esse protagonismo produtivo ainda não se traduziu em protagonismo nas regras globais que estão sendo desenhadas para mensurar a sustentabilidade agrícola no contexto das mudanças climáticas. Por quê?

Desde a COP28, um conjunto de novos indicadores tem ganhado força nas discussões da ONU. Eles estão organizados no programa EAU – Belém (2024-2025), parte da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC). A lista cobre desde o uso da terra até acesso a seguros e capacidade institucional de resposta climática. A intenção é louvável: medir o progresso real dos países em direção à agricultura resiliente ao clima. Mas como aplicá-los ao Brasil?

O Desafio dos Dados

Aqui começa o problema: não é que o Brasil não tenha informações, é que elas estão espalhadas, incompletas, com baixa atualização e pouca conexão entre si. É como ter todas as peças de um quebra-cabeça, mas sem saber onde está a caixa com a imagem de referência.

Tomemos como exemplo o indicador “proporção de terras sob práticas sustentáveis”. Para preencher isso, é preciso cruzar dados do Censo Agropecuário (IBGE), mapas do MapBiomas, registros da Embrapa sobre plantio direto e ILPF, e imagens do INPE. Além disso, seria necessário classificar metodologicamente o que é considerado “resiliente” ao clima. Nada trivial.

Outros indicadores, como o acesso a serviços climáticos (INMET), adoção de práticas adaptativas (PNAD), uso de variedades adaptadas (MAPA/SIGEF), e informações sobre proteção social ou seguros rurais (SUSEP, MDS, CadÚnico), também estão disponíveis, mas não dialogam entre si. Não há um sistema nacional integrado para consolidar essas evidências.

Dados e Agricultura Sustentável do Brasil: Por que precisamos fazer a tarefa de casa e atender as Regras Globais

Figura 1. Distribuição das políticas públicas de sustentabilidade em seus diferentes setores.

Oportunidades em Construção

O Brasil está, sim, tentando corrigir esse problema. O SINAGRO (Sistema Nacional de Informações Agropecuárias) pretendia ser o guarda-chuva que organiza os dados da agropecuária nacional, com foco em produtividade, clima e sustentabilidade. Assim como o Observatório da Agropecuária, também lançado pelo MAPA, esses modelos de governança e organização dos dados foram alvo de um processo de cientificamente chamado por Michael Bauer de “desmantelamento de política pública”, o que é muito triste.

Os novos indicadores internacionais vão exigir que o Brasil reestruture como coleta, organiza, padroniza e divulga seus dados. Será necessário integrar IBGE, Embrapa, Conab, INMET, ANA, MAPA, MDS, SUSEP, universidades e governos estaduais em uma lógica de sistema e não de compartimentos.

Dados e Agricultura Sustentável do Brasil: Por que precisamos fazer a tarefa de casa e atender as Regras Globais

Figura 2. Representação visual do nível de acesso a dados para medir a trajetória sustentável no Brasil.

O infográfico acima representa a facilidade de acesso às bases de dados brasileiras necessárias para preencher os indicadores climáticos internacionais. Cada barra horizontal corresponde a uma categoria de indicador. A cor indica o nível de acesso à informação:

  • Verde: acesso fácil (dados disponíveis, atualizados e abertos)
  • Amarelo: acesso intermediário (dados existentes, mas dispersos ou incompletos)
  • Vermelho: acesso difícil (dados inexistentes, não públicos ou desatualizados)

Essa visualização ajuda a identificar onde o Brasil precisa investir para consolidar uma base robusta de evidências que sustente sua liderança nas discussões internacionais de sustentabilidade. As áreas mais críticas envolvem proteção social, desperdício de alimentos, comércio sustentável e biodiversidade — justamente onde a governança integrada e interinstitucional é mais desafiadora.

Conclusão: O Brasil Precisa Jogar no Centro do Campo

Não basta seguir regras feitas fora. O Brasil precisa estar na mesa onde as regras estão sendo escritas. Isso significa identificar quais dados já temos, mobilizar quem pode preencher as lacunas e propor adaptações metodológicas coerentes com nossos sistemas tropicais.

Se não fizermos isso, corremos o risco de termos uma agricultura exemplar em campo, mas invisível nos relatórios internacionais. As próximas rodadas de negociações, seja na OMC ou na UNFCCC serão decisivas. Que estejamos prontos com dados, narrativas e propostas. Afinal, liderar também é contar bem a nossa própria história.

Sobre o CCAS

O Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011, com domicilio, sede e foro no município de São Paulo (SP), com o objetivo precípuo de discutir temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto.

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