Debates estratégicos e inovações científicas para o futuro da ferrovia brasileira marcam o Simpósio de Engenharia Ferroviária

Debates estratégicos e inovações científicas para o futuro da ferrovia brasileira marcam o Simpósio de Engenharia Ferroviária

Academia, indústria e governo analisam gargalos operacionais e logísticos, apresentam pesquisas aplicadas e buscam fortalecer a colaboração para a modernização do setor

Debates estratégicos e inovações científicas para o futuro da ferrovia brasileira marcam o Simpósio de Engenharia Ferroviária
VIII Simpósio de Engenharia Ferroviária, no Centro de Convenções da Unicamp

O VIII Simpósio de Engenharia Ferroviária (SEF) deu início às suas atividades em 14 de maio, no Centro de Convenções da Unicamp, marcando mais um ano de debates técnicos e apresentação de pesquisas voltadas para o avanço do setor ferroviário nacional. A abertura do evento, conduzida pelo Professor Auteliano Antunes dos Santos Jr., contou com agradecimentos aos patrocinadores Toledo do Brasil, RUMO, Amsted Rail, Amsted Maxion, Greenbrier, MRS, Goldschmidt (Thermit), à parceria Vale, e aos apoios institucionais IQF, ABIFER, ANTF, ABCM, Revista Ferroviária, NT Expo, Simefre e Rede Simefre, e AEAMESP.

Debates estratégicos e inovações científicas para o futuro da ferrovia brasileira marcam o Simpósio de Engenharia Ferroviária
Antônio Carlos Barbosa Mesa-redonda do VIII Simpósio de Engenharia Ferroviária

A palestra inaugural, intitulada “Transporte ferroviário de cargas no Brasil: cenário atual e desafios futuros”, foi proferida por Frederico Bussinger, engenheiro e economista reconhecido como um dos maiores especialistas do setor no país. Bussinger destacou a importância histórica da ferrovia no desenvolvimento de regiões como o estado de São Paulo, onde cidades importantes surgiram ao longo dos eixos ferroviários, e mencionou o papel logístico estratégico de Campinas. Ele apresentou um panorama do transporte de cargas sobre trilhos no Brasil e no mundo, notando a baixa densidade ferroviária brasileira em comparação com países de grande território e população, e o predomínio do transporte rodoviário na matriz de transporte nacional.

Ao discutir exemplos internacionais de planejamento e gestão, como o “white paper” europeu e a meta de transferir 50% do transporte para modos hidroviários e ferroviários até 2050, que deu origem à rede TEN-T com corredores multimodais e gerenciamento unificado, Bussinger contrastou essa abordagem com a brasileira, que muitas vezes foca apenas em infraestrutura e investimentos em vez de resultados e desempenho. Ele citou o Porto de Antuérpia como um exemplo de planejamento integrado que visa oferecer soluções logísticas ao cliente, conectando-se a uma vasta rede multimodal que alcança até Moscou e Pequim. Ao finalizar a palestra, Bussinger destacou o Plano Nacional de Logística (PNL) 2050, que está em audiência pública e representa um avanço conceitual ao buscar uma visão territorial integrada, focar na competitividade nacional e desenvolvimento regional, alinhando-se mais com o planejamento estratégico europeu.

Em seguida, o Professor Dr. Paulo Roberto Gardel Kurka apresentou um novo título da Editora Elsevier. A Elsevier, reconhecida por suas publicações científicas, identificou a necessidade de uma revista especializada em heavy rail e transporte de cargas pesadas ferroviárias, um campo carente de publicações especializadas. A nova revista, que terá o inglês como língua oficial para alcance mundial e será de acesso aberto, abordará temas como segurança, meio ambiente, política de cada país, design mecânico, análise estrutural e dinâmica, e sistemas de sinalização.

A primeira sessão de trabalhos foi mediada pelo Engenheiro Frederico Bussinger e contou com a apresentação conduzida por Francirlei Ribeiro Barbosa, da RUMO, abordou uma “Abordagem Híbrida Para Apoio Multicritério À Decisão: Uma Proposta Metodológica Para Priorização De Ativos Ferroviários Na Gestão De Manutenção”. O autor do trabalho pontuou que a priorização de ativos para manutenção é um desafio diário complexo, especialmente em uma empresa de grande porte como a Rumo, que opera em nove estados com mais de 14.000 km de malha ferroviária, 25.000 vagões e 846 locomotivas. “O modelo proposto para enfrentar esses desafios é HP-TOPSIS, que unifica critérios qualitativos e quantitativos para apoiar a tomada de decisão, integrando aspectos técnicos, econômicos, ambientais, de segurança e estratégicos para a companhia. Para problemas compensatórios, em que a gestão busca equilibrar risco e performance, alinhada aos objetivos da companhia, não necessariamente focando apenas na redução numérica, o modelo mostrou-se adequado”, de acordo com Francirlei.

A sessão de trabalhos teve continuidade com “Monitoramento de precipitação em ferrovias, preenchimento de falhas e espacialização de dados pluviométrico”, estudo conduzido pela engenheira Thaís Justo, com a abordagem da importância do tema em um contexto de eventos extremos e dos desafios que as condições meteorológicas, particularmente a chuva, representam para a operação ferroviária. O foco do trabalho foi a limitação da rede de pluviômetros existente utilizada pelo sistema de alertas e monitoramento da MRS e a busca pela revisão e avaliação dos métodos de interpolação para melhorar a precisão e a confiabilidade das estimativas de precipitação ao longo da malha ferroviária. A engenheira apontou que os resultados demonstraram que o método IDW foi o mais equilibrado, produzindo estimativas mais próximas dos valores observados, o que é crucial para a gestão de riscos, a segurança operacional e a redução de custos associados a paralisações ou restrições de velocidade.

A programação seguiu com o Professor Doutor Luiz Antônio Silveira Lopes, com a apresentação da Cátedra de Logística e Operações Ferroviárias, abordando a complexidade desta iniciativa. O Professor Silveira Lopes enfatizou a Pesquisa Operacional como uma área fundamental para otimizar a logística ferroviária, descrevendo-a como um conjunto de técnicas matemáticas aplicadas à solução de problemas. Ele reforçou a necessidade de viabilizar projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) especificamente em logística e operação utilizando recursos como o RDT, e posicionou a cátedra como uma forma de viabilizar e direcionar esforços para temas de interesse do sistema ferroviário que ainda não estão totalmente contemplados, identificando isso como o principal desafio desta Cátedra.

A programação da tarde incluiu apresentações da AmstedRail e AmstedMaxion. Marcelo Souza, gerente de Engenharia de Produto – GBMX, Paulo Maurício, diretor de engenharia – AmstedRail, e Roger Nascimento, gerente de planta RAF – AmstedMaxion, apresentaram a GBMX. Posteriormente, Igor Tavares Marins, engenheiro, e Rafael Balsanelli Mariano de Lima, coordenador de unidade de negócio, da Toledo do Brasil, apresentaram tecnologias para pesagem em movimento.

Uma mesa-redonda sobre “Integração Ferroviária: desafios tecnológicos para a implantação de ferrovias de cargas interligadas” reuniu Arthur Sartori Augusto, André Resende Soares e Paulo Oliveira, com mediação de Leonardo Baruffaldi. André Resende Soares, da Rumo, detalhou a escala da operação da empresa, e falou sobre a integração com parceiros como MRS e VLI, especialmente no Porto de Santos. Ele ilustrou a complexidade da operação em Santos, com múltiplos terminais, produtos e a necessidade de integração entre diferentes operadoras no mesmo local. Já André Resende Soares identificou três grandes desafios para a integração: regulação, tecnologia (sistemas de tomada de decisão, sinalização e comunicação em tempo real) e pessoas (alinhamento e liderança unificada), além de processos e contratos operacionais. Paulo Oliveira, da ANTF (Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários), colocou em pauta os desafios tecnológicos e a interoperabilidade. Ele mencionou que 18% da carga ferroviária já tem origem em uma malha e destino em outra, e esse percentual aumenta significativamente (para 35%-60%) ao excluir o minério de ferro, demonstrando o compartilhamento de vias e material rodante. A Lei 14.173 trouxe a oportunidade para a autorregulação do setor, que a ANTF tem buscado promover, visando estabelecer padrões operacionais mínimos e facilitar o intercâmbio e compartilhamento de material rodante. Marcos Moranda, da Vale, levantou a questão da padronização dos sistemas de licenciamento de trens como uma grande barreira à interoperabilidade, citando o custo elevado e o longo lead time dos equipamentos, além da necessidade de múltiplas licenças a bordo para locomotivas que operam em diferentes malhas. Os debatedores concordaram que a padronização é essencial e que a agência reguladora tem um papel estratégico, embora os próprios contratos de concessão já comecem a prever a conversa entre sistemas. A experiência internacional, em que as próprias empresas estabelecem padrões de interoperabilidade, foi citada como exemplo a ser seguido, com o respaldo da legislação brasileira.

A oitava edição do Simpósio prestou homenagem a Vicente Abate, presidente da ABIFER e conselheiro em diversas associações, além de secretário executivo da Frente Parlamentar para o Fortalecimento da Indústria Ferroviária Brasileira. Abate foi reconhecido por sua dedicação e trabalho incansável na articulação entre indústria, academia e governo, gerando resultados concretos para a expansão dos trilhos no país e sendo fundamental para compreender o presente e traçar o futuro ferroviário brasileiro.

No final da tarde, um dos coordenadores da Vale do programa Cátedra, Raidam Fernandes, descreveu a iniciativa em parceria com universidades, focada em resolver problemas reais, aumentar a vida útil de ativos e desenvolver soluções inovadoras nas áreas de Roda-Trilho, Vagões e Under Rail. Segundo Raidam Fernandes, o programa de cátedras busca conectar o conhecimento das universidades com os nossos problemas reais e já gerou resultados rápidos e novas soluções para a empresa.

A apresentação do “Estudo de resinas poliméricas para reparo e prevenção da abrasão em dormentes de concreto”, com mediação da Professora Rosângela Motta, sucedeu a programação. A Professora Daiana Cristina Metz Arnold, da Universidade Feevale, apresentou o projeto, desenvolvido em parceria com a Vale desde 2019, sobre pesquisa resinas poliméricas para reparar e prevenir a abrasão sob o trilho nos dormentes de concreto, visando aumentar sua vida útil. O estudo também desenvolveu ferramentas de diagnóstico para medir a deformação dos dormentes. Atualmente, o projeto foca no monitoramento do desempenho das resinas e na relação entre deformação e pressão do grampo. “Essa interação entre universidade e empresa é muito importante, porque se a gente não tem isso, teoricamente a gente forma para o mercado profissionais que não estão tecnicamente capacitados para trabalhar nas empresas”, alertou Daiana Arnold.

O encerramento do primeiro dia ficou a cargo do Professor Leonardo Baruffaldi. Os destaques para o dia seguinte incluirão a apresentações sobre projetos ferroviários no Brasil sob a condução de Vicente Abate, a palestra “Recent Advances in Railway System Dynamics” pelo Professor Pombo, sessões de trabalho sobre roda-trilho, under rail e vagões, e uma discussão sobre os desafios das ferrovias brasileiras entre 2025 e 2035 com Paulo Roberto Oliveira da ANTF.

Sobre o Simpósio de Engenharia Ferroviária

Em 2017, pesquisadores de diversas universidades brasileiras envolvidos em projetos de pesquisa e desenvolvimento sobre a temática ferroviária se uniram para criar um evento de caráter eminentemente técnico, no qual os resultados das pesquisas em parceria pudessem ser apresentados.

Foi assim que nasceu o Simpósio de Engenharia Ferroviário (SEF) – que, encabeçado pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), pelo Instituto Federal de São Paulo (IFSP), pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), pela Universidade Santa Cecília (UNISANTA), pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), pela Escola Politécnica da USP e pelo Instituto Militar de Engenharia (IME).   Em sua sétima edição, contou com mais de 250 inscritos, que permitiram a troca de informações entre as empresas do setor ferroviário e academia, contribuindo para o desenvolvimento do setor no país.

 

 

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