Desafios climáticos e energéticos colocam setor mínero-metalúrgico em atenção
Papel da mineração na redução de emissões aponta para a produção de materiais críticos e expectativas para a transição energética
Fonte: Assessoria ABM
Consideradas em debates em todo o mundo, as mudanças climáticas foram destaque em painéis da 9ª edição da ABM Week, maior evento técnico-científico e empresarial da América Latina para as indústrias de metalurgia, materiais e mineração. Em uma das mesas-redondas com especialistas do setor foram discutidas estratégias de adaptação frente aos riscos ambientais advindos destas transformações.
Para compreender o cenário industrial no país, é necessário olhar sob dois prismas: o interno, como gerador de impactos, e o externo, como receptor das consequências climáticas. Para a consultora e coordenadora do Painel Mineração, Redução e Aglomeração, Vânia Lúcia de Lima Andrade, este é um tema ainda de baixa compreensão e com alguns aspectos importantes a serem observados.
“O tema é muito relevante, sendo fundamental detalhar alguns aspectos. A grande fonte energética da mineração é a elétrica, que no Brasil vem majoritariamente de energia limpa. A geração de CO2 se dá nas fases de transporte, na mina e para chegar ao mercado, seja em caminhões, trens ou navios. Portanto, ao falar em redução de geração de CO2, precisamos olhar principalmente para a logística”, relatou.
Segundo o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), a mineração ocupa a nona posição no ranking, devido às emissões diretas, ao uso de energia, aos resíduos e aos impactos em solo e água.
Ainda assim, Vânia enxerga diversas oportunidades, principalmente na produção de materiais críticos, considerados essenciais para a cadeia de produção e economia de alguns países: “a mineração pode ajudar a siderurgia a reduzir esse impacto por meio do fornecimento de minério de qualidade superior ou de produtos com menor pegada ambiental, como o briquete verde. Atualmente, o principal impacto positivo está na produção de materiais críticos para a transição energética. Sem esses minerais, ela não seria possível”, ponderou.
No horizonte, os principais desafios climáticos já se apresentam. Estudo da Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, em parceria com a Unifesp, MCTI e Unesco, mostrou que os desastres climáticos no Brasil aumentaram cerca de 250% entre 2020 e 2023, em comparação com a década de 1990. Os impactos já observados ou previstos incluem a indisponibilidade de água, com riscos de interrupções e necessidade de adaptação do uso; chuvas intensas com inundações que podem danificar infraestrutura, barragens de rejeitos, transporte e causar atrasos; vulnerabilidades nos sistemas de energia e logística, aumentando o risco de falhas e interrupções; e à segurança operacional, com aumento dos riscos para trabalhadores e comunidades próximas.
Para além dos desafios climáticos já demonstrados, o setor ainda luta contra o estigma de ser uma atividade poluente e ambientalmente perigosa. Para a coordenadora do painel, esse é um desafio que deve ser encarado como sério. “Apesar da área ocupada por todas as mineradoras brasileiras somadas corresponder a menos de 0,1% do território nacional, é importante reconhecer que a mineração tem impacto ambiental expressivo onde está inserida e cada vez mais está sendo cobrada por isso. A imagem da mineração é ruim na sociedade muito em função do impacto ambiental local”, avaliou.
Mas ela acredita já existirem soluções à médio e longo prazo para reverter isso. “Uma medida imprescindível para mudar este quadro é a adoção do fechamento progressivo das minas. O processo de fechamento conta com a recuperação ambiental do território impactado, e isto deve ser feito ao longo da vida útil do empreendimento, não apenas no seu final. A Agência Nacional da Mineração já tem regulamentação sobre esse processo desde 2018”, acrescentou.
Esse processo de fechamento, já vem sendo adotado por grandes nomes do mercado, mas sem o reconhecimento necessário ainda. “Para que a empresa tenha a autorização de lavra, são necessárias licenças ambientais que preveem a recuperação ambiental das áreas impactadas. Tudo isto é relativamente novo e ainda tem que ser aperfeiçoado, mas as boas empresas de mineração são cientes de que, se não reverterem a imagem da atividade perante a sociedade, seu futuro ficará comprometido”, explicou Vânia.
Ainda segundo a consultora, a mineração é a principal atividade a viabilizar a transição energética para fontes limpas como a solar e eólica. “O Brasil tem reservas importantes de fontes como Lítio, Cobre, Níquel, terras raras, entre outros. Por isso, o acesso a estas fontes de minerais tem sido alvo de disputas geopolíticas. O desafio é a produção de produtos de maior valor agregado, indo além dos produtos primários”, completou.
Sobre a ABM
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