Estudo apresenta as principais tendências do setor de biocombustíveis no Brasil
Além das tendências para o setor de biocombustíveis, estudo aborda o impacto no futuro da transição energética do Brasil e do mundo
A COP30 promete reaquecer as conversas sobre o modo como ações de combate às mudanças climáticas serão financiadas, sobretudo em países que mais sofrem com suas consequências. O impacto às cadeias produtivas em todo o mundo também é um problema que atinge diversos mercados, que procuram meios para realizar uma transição energética o mais rápido possível. É diante desse contexto que o Brasil se coloca como potência no fornecimento de energia renovável, apresentando alternativas a partir da expansão de uma indústria voltada aos biocombustíveis. Essa é a conclusão que pesquisadores da Fundação Eco+ chegaram ao analisarem como o setor tem se desenvolvido no país.
“Está claro que as energias renováveis podem contribuir para o desenvolvimento sustentável, proporcionando acesso à energia em áreas remotas e menos desenvolvidas, o que melhora a qualidade de vida e impulsiona o crescimento econômico. O setor de energias renováveis também é intensivo em mão de obra, gerando muitos empregos em diversas áreas, desde a fabricação até a instalação e manutenção de sistemas. Além disso, investir em energias renováveis estimula a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias, promovendo inovações que podem ser aplicadas em outros setores”, analisa Larissa Landete, Analista Sênior de Sustentabilidade Aplicada da Fundação Eco+.
A instituição, mantida pela BASF e que trabalha com projetos voltados à sustentabilidade, lança um estudo apresentando as tendências para o setor de biocombustíveis e seu impacto no futuro da transição energética não só do Brasil, mas global. Em 2023, o país representou quase 26% da produção total, atrás apenas dos Estados Unidos, com 40%, de acordo com dados da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).
Estima-se que o setor de biocombustíveis crie cerca de um milhão de empregos diretos e dois milhões de empregos indiretos em mais de 1.600 municípios, contribuindo significativamente para o desenvolvimento econômico regional, além de contribuir em aproximadamente US$150 bilhões para o Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
O lançamento do estudo acontece em um ano emblemático: em 2025 celebra-se os 20 anos do Plano Nacional de Biocombustíveis, marco que consolidou o Brasil como referência global na produção sustentável de etanol e biodiesel. A norma inseriu oficialmente o biodiesel na matriz energética nacional, oferecendo uma alternativa ao diesel fóssil. Dados do Ministério de Minas e Energia mostram que, nos últimos 20 anos, cerca de 77 bilhões de litros de biodiesel foram produzidos, economizando 38 bilhões de dólares em importações de diesel fóssil.
“A trajetória dos biocombustíveis no Brasil demonstra que é possível crescer economicamente sem renunciar à sustentabilidade. Com 20 anos de políticas públicas voltadas para esse setor, estamos diante de uma nova onda de inovação, que pode consolidar o país como um dos líderes da transição energética. O material é uma ferramenta essencial para quem quer entender as oportunidades desse novo momento”, afirma Larissa.
Além de traçar um histórico da evolução do setor, o material aborda a Lei do Combustível do Futuro, política que promete impulsionar ainda mais o uso de fontes renováveis, sobretudo nos setores do transporte e da indústria. A nova norma prevê estímulos ao diesel verde, biometano e ao combustível sustentável para aviação (SAF), ampliando as alternativas energéticas e fortalecendo a competitividade do Brasil no mercado global de combustíveis renováveis.
“Em relação ao biodiesel, a Lei prevê que a proporção obrigatória de mistura no diesel de origem fóssil chegue a 20% em 2030, o B20”, comenta Flavio Iwassa, gerente sênior de Metilato de Sódio na BASF para a América do Sul. “O biodiesel tem um potencial fantástico, inclusive já está sendo testado o uso de 100% biodiesel por frotas rodoviárias e fluviais sem qualquer mistura com outro combustível. Foram mantidas as boas práticas recomendadas com o diesel comum, como cuidados com a estocagem, aditivação, uso de biocidas, por exemplo”.
O estudo reúne ainda as principais tendências do setor, explorando o papel do Brasil como fornecedor global de biocombustíveis até inovações tecnológicas e os desafios ambientais que devem ser enfrentados pela sociedade. “Buscamos analisar as principais matérias-primas que compõem essa cadeia produtiva nacional, como cana-de-açúcar, soja e resíduos orgânicos, além de novas frentes que ganham força, como o etanol de segunda geração e os biocombustíveis para aviação”, diz Larissa.
Oportunidades e desafios para o futuro
Um dos principais obstáculos para a transição energética é a dependência das infraestruturas existentes, que, muitas vezes, são adaptadas para a utilização de combustíveis fósseis. Modernizar essas infraestruturas requer investimentos significativos e tempo, o que pode atrasar a implementação de novas tecnologias.
Nesse aspecto, o Brasil também larga na frente do restante do mundo. O país possui uma infraestrutura bem desenvolvida para a produção de biocombustíveis, com mais de 339 usinas de biocombustíveis certificadas, facilitando a produção e distribuição eficientes.
Outro desafio é o uso dos recursos naturais de maneira a não prejudicar o meio ambiente, como buscar matérias-primas cada vez mais sustentáveis para os biocombustíveis. “O Brasil se destaca por sua alta produtividade agrícola, permitindo, em muitos casos, duas safras anuais, o que reduz a competição entre cultivos para biocombustíveis e produção de alimentos”, explica Larissa. Ela também conta que existe uma grande oportunidade no país a partir do aproveitamento de resíduos de biomassa vegetal da própria atividade agrícola, que podem ser utilizados como matéria-prima para novas rotas de biocombustíveis. “Essa abordagem também contribui para uma redução significativa das emissões associadas à conversão do uso da terra”, finaliza.
Para Iwassa, “o biodiesel desempenha um papel estratégico na redução de emissões no Brasil, especialmente devido à política de mistura obrigatória ao diesel fóssil. Além de reduzir significativamente a pegada de carbono do setor de transportes, o biodiesel estimula a economia circular, aproveitando matérias-primas como óleo de cozinha usado e gorduras animais – incluindo o sebo bovino, um subproduto da indústria de carnes. Combinando benefícios ambientais e econômicos, o biodiesel fortalece a segurança energética nacional e impulsiona a transição para combustíveis mais sustentáveis.”
O material já está disponível para download e pode ser acessado no site da Fundação Eco+.