Inovação tecnológica é indispensável para garantir a sustentabilidade hídrica do Brasil
Por Walter de Oliveira, consultor técnico da Engeper Ambiental e Perfurações*
Apesar de a água ser um recurso essencial para o funcionamento do país, responsável por gerar grande parte da energia elétrica consumida no Brasil, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), sua gestão ainda é marcada por ineficiência e negligência. A crise hídrica, longe de ser pontual, tornou-se recorrente, comprometendo o abastecimento em diversas regiões, pressionando os ecossistemas e afetando diretamente a produção agrícola e industrial. Essa realidade, agravada por mudanças climáticas e pela ausência de políticas públicas estruturantes, exige mais do que medidas paliativas: pede inovação urgente. A escassez de água já é estrutural em áreas como o semiárido nordestino e a região Sudeste, e mesmo assim, a adoção de tecnologias de reuso e tratamento segue tímida diante da gravidade do cenário.
A ausência de um olhar estratégico e consequente sobre a gestão da água escancara uma miopia institucional que ainda enxerga inovação como despesa, e não como ativo essencial para a sustentabilidade e a competitividade. A eletrodiálise reversa, por exemplo, representa mais do que uma solução técnica: ela simboliza o potencial subaproveitado de um país que negligencia a aplicação de ciência e tecnologia para resolver um de seus maiores desafios estruturais. A crise da água, longe de ser episódica, é o sintoma mais visível de um modelo ultrapassado que ignora os benefícios econômicos, ambientais e sociais das tecnologias de reuso. Quando indústrias operam com baixa eficiência hídrica e o saneamento básico segue precário, a consequência é um ciclo de escassez agravado por omissões políticas e empresariais.
Diante dos avanços tecnológicos já disponíveis, causa preocupação o fato de que o reuso de efluentes, sejam industriais ou domésticos, ainda não esteja integrado de forma sistemática às estratégias de gestão hídrica no Brasil. A falta de políticas públicas que incentivem essa prática, aliada à resistência de diversos setores em adotar soluções sustentáveis, evidencia um descompasso entre o potencial técnico-científico e a realidade da aplicação prática. Em um cenário de escassez crescente, deixar de incorporar tecnologias que promovem ganhos concretos em eficiência operacional e redução significativa dos impactos ambientais representa uma perda importante para a sustentabilidade nacional.
A mudança necessária passa por uma reformulação profunda na cultura de gestão hídrica nacional. Colocar a inovação no centro da estratégia não é uma escolha, mas uma exigência diante da gravidade do cenário. A adoção sistemática de tecnologias avançadas, como o tratamento de efluentes para reuso em processos industriais ou irrigação agrícola, deve se tornar política pública e exigência regulatória. Além de aliviar a pressão sobre as fontes naturais, essas medidas promovem ganhos concretos em produtividade e segurança hídrica. Se o Brasil almeja cumprir compromissos internacionais como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, especialmente o ODS 6, que trata do acesso à água potável e saneamento, é urgente que se abandone o paradigma reativo e se adote uma postura proativa, integrando tecnologia, responsabilidade ambiental e visão de futuro.
*Walter Oliveira — Fundador e Diretor, Walter é engenheiro civil formado pelo Mackenzie e uma referência consolidada no mercado nacional de perfurações. Ao longo de sua carreira, já presidiu a ABAS (Associação Brasileira de Águas Subterrâneas) e o Comitê de Bacias, reforçando seu papel de liderança no setor. Reconhecido pelo pioneirismo em inovação, pesquisa e desenvolvimento, Walter é um profissional técnico da Engeper Ambiental e Perfurações* comprometido com o avanço tecnológico e a sustentabilidade no segmento de recursos hídricos.