Mesmo em intensidade amena, La Niña reforça cenário de incertezas climáticas e alerta para manejo hídrico no agro, avalia especialista

O fenômeno La Niña, que nas previsões iniciais se mostra de intensidade fraca a moderada, começa a redesenhar os mapas de chuva e temperatura para os próximos meses. Sua presença já é suficiente para acender o alerta entre produtores rurais, que enfrentam um quadro de grande instabilidade climática em diferentes regiões do país.
Danilo Silva, gerente agronômico da Netafim e responsável por monitorar cenários climáticos e seus reflexos no planejamento agrícola, destaca que, embora o ano tenha começado sob expectativa de neutralidade, a confirmação da La Niña reforça a necessidade de um manejo hídrico mais técnico e previsível.
“Temos observado uma La Niña de intensidade leve, mas que já provoca alterações perceptíveis no regime de chuvas e nas temperaturas, com aumento de precipitações no Norte e Nordeste, períodos mais secos no Sul e comportamento irregular no Centro-Oeste e Sudeste”, explica.
Silva ressalta que o efeito do fenômeno não é uniforme. No Nordeste, há municípios enfrentando veranicos superiores a 60 dias — um comportamento atípico tanto para a região quanto para um ano de La Niña amena. No Centro-Oeste, o cenário é oposto: as chuvas recentes aceleraram o plantio da soja.
“Mesmo uma La Niña considerada fraca pode intensificar contrastes regionais. No Sul, por exemplo, a combinação de temperaturas elevadas e períodos mais secos exige atenção redobrada no manejo da irrigação. No Nordeste, o excesso de chuvas pode favorecer doenças. O que estamos vendo é um cenário de grande imprevisibilidade”, afirma.
Essa instabilidade pode acarretar eventos climáticos extremos registrados nas últimas semanas, como o tornado que devastou Rio Bonito do Iguaçu (PR). Embora não haja relação direta com a La Niña, o episódio evidencia a crescente variabilidade atmosférica. “O fenômeno no Paraná não está associado à La Niña, mas mostra que o clima tem se tornado mais instável e difícil de prever. Por isso, o planejamento hídrico e o uso de tecnologias de irrigação se tornam ainda mais estratégicos”, observa Silva.
Temperaturas elevadas e maior demanda por água
Mesmo com a La Niña associada à redução da temperatura oceânica em parte do Pacífico, o Brasil vem registrando verões cada vez mais quentes. O de 2024/2025, lembra Silva, foi o mais quente desde 1961, justamente sob influência do fenômeno.
Essa elevação térmica pressiona a demanda hídrica das culturas, especialmente nas regiões Centro-Oeste e Sul. “Quando há irrigação, o produtor utiliza mais o sistema. Quando não há, a dependência do clima cresce e a produtividade fica mais vulnerável”, destaca.
Decisões mais técnicas e monitoramento mais rigoroso
Segundo Silva, a antecipação é essencial em cenários de instabilidade climática. Ele destaca que a Netafim vem ampliando iniciativas educativas, como treinamentos, eventos técnicos e ações de orientação, para apoiar os produtores na gestão hídrica de forma mais precisa.
“A melhor estratégia é correlacionar dados de diferentes sensores. Uma estação meteorológica bem instalada já permite calcular evapotranspiração com precisão. Quando combinamos essas informações com sensores de umidade do solo, conseguimos entender quanto de água o solo retém e qual volume precisa ser reposto”, explica.
Na prática, essa integração de dados é viabilizada pelos controladores da linha GrowSphere™, que automatizam bombas, válvulas e outros componentes hidráulicos, com operação remota e adaptada a diferentes ambientes produtivos.
Sem receita pronta
Diante da irregularidade das chuvas, o especialista reforça que não existe fórmula única para não comprometer a produção. Em situações de demanda hídrica muito elevada, comuns em eventos climáticos extremos, algumas propriedades podem precisar ajustar os turnos de rega — sempre levando em conta tipo de solo, estágio da cultura e expectativas de produtividade.
“É uma construção conjunta. Produtor, consultor e agrônomo precisam avaliar o ambiente produtivo e desenhar a melhor estratégia para aquele momento. No fim do dia, entender a dinâmica clima–solo–planta–atmosfera é fundamental para enfrentar incertezas”, completa.






