Pará aparece como maior emissor de metano ligado ao uso de lenha para cocção, diz IEMA
Dado foi revelado em painel na Zona Azul da COP30, em Belém

O Pará lidera um ranking pouco conhecido, mas bastante revelador: é o estado brasileiro com maior emissão per capita de metano gerado pelo uso de lenha e carvão para cozinhar. “E isso, na verdade, significa que neste estado se usa muita lenha para cozinhar, ou seja, as pessoas não têm acesso a energia elétrica para ter fogão a gás. É um indicador de pobreza”, diz o pesquisador do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), Felipe Barcellos e Silva, durante a mesa “Do Compromisso à Implementação: Acelerando a Mitigação do Metano no Brasil”, que ocorreu no Super Pollutant Solutions Pavilion (Pavilhão de Soluções para Superpoluentes), Conferência das Partes (COP30) para mudanças climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU), dia 19.
Apesar de o setor de energia ser o principal emissor global de metano, o Brasil foge do padrão. “No mundo, o setor de energia é o mais importante emissor. Mas no Brasil, a mudança de uso da terra é o mais importante”, afirma. Quando analisadas as emissões totais de metano do país, a principal fonte é, de longe, a pecuária bovina. O que coloca o Mato Grosso como o estado que mais emite.
Mesmo assim, o pesquisador insiste que o setor energético merece atenção, especialmente pelas emissões de metano — um gás menos volumoso, mas altamente estratégico para a redução de curto prazo.
O metano representa apenas 3,5% das emissões do setor de energia no Brasil, o que pode ser cortado rapidamente. As fontes principais de emissões derivam de dois grupos: os vazamentos na cadeia de óleo e gás (as fugitive emissions) e o que acontece dentro das casas, nos fogões à lenha e carvão.
É neste segundo grupo que o recorte social se faz mais agudo. Países mais pobres, diz ele, registram maior proporção de metano associado a atividades domésticas. No Brasil, essa realidade se concentra nas regiões que ainda dependem de biomassa para cozinhar. Por isso o gráfico que mostra o Pará no topo “é, na verdade, um alerta”, aponta Silva. Ele explica que o país já reduziu bastante essa prática ao longo das décadas, mas o ritmo precisa ser acelerado se quiser combinar justiça social e transição energética.
O pesquisador também chama atenção para outro risco: a formação de ozônio troposférico, um gás tóxico resultante da interação do metano com a luz do sol e outros compostos. Em cidades com refinarias, como Paulínia (SP), os níveis ultrapassam com frequência o recomendado pela ONU. “A melhor forma de diminuir as emissões de metano é parar de usar combustíveis fósseis. Até lá, é necessário ampliar o acesso à energia limpa”, conclui.
Energia elétrica no Pará
Vale lembrar que, segundo estudo do IEMA, o Pará é o estado da Amazônia Legal com a maior população sem energia elétrica de fornecimento público: cerca de 410 mil pessoas. Ele também lidera o ranking amazônico dos estabelecimentos produtivos extrativistas sem energia elétrica. São quase 29 mil sem energia elétrica, aponta outro estudo do IEMA lançado antes da COP30.






