Setor privado da Amazônia assume protagonismo no combate ao desmatamento ilegal
A Amazônia ganhou destaque na Semana do Clima de Nova York com o anúncio de uma iniciativa inédita do setor privado brasileiro para enfrentar o desmatamento. A Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA) e a Jornada COP+, movimento multissetorial da Amazônia, lançaram o Programa pelo Combate ao Desmatamento e Queimadas Ilegais, um esforço pioneiro da indústria amazônica para acelerar a meta do Brasil de zerar o desmatamento ilegal até 2030.
O presidente da FIEPA e da Jornada COP+, Alex Carvalho, destacou o caráter estratégico da medida. “Ao não tolerarmos as ilegalidades, enfrentamos de frente o fato de que o desmatamento ilegal destrói a floresta, polui os rios e corrói a reputação da Amazônia, com impactos econômicos e geopolíticos profundos. A indústria amazônica se compromete a ser parte ativa dessa força-tarefa global”, afirmou.
O anúncio ocorreu durante a programação da CNI via Sustainable Business COP (SB COP), realizada na sede da empresa Accenture, em Nova York, que apresentou os principais casos de liderança em compromissos climáticos globais. O lançamento também coincide com uma tendência de queda nos índices de desmatamento.
Dados recentes divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) revelam que, entre agosto de 2024 e julho de 2025, os alertas de desmatamento diminuíram em três dos principais biomas brasileiros. A Amazônia registrou uma queda de quase 50%. No Pará, estado que ainda concentra a maior área de desmatamento, a redução foi de 21% em relação ao período anterior.
Programação destacou projeto de mineração no Pará
Na programação da SB COP o presidente da entidade, Ricardo Mussa, afirmou que 600 projetos foram recebidos pela iniciativa. O escolhido para ser apresentado por Mussa foi o do Complexo Minerário de Carajás, operado pela Vale. Considerado um dos maiores projetos de mineração do mundo, Carajás foi citado como exemplo de que desenvolvimento econômico e conservação ambiental podem caminhar juntos.
Segundo Mussa, em quatro décadas de operação, Carajás consolidou uma experiência singular. Desde 1985, o complexo funciona dentro de um mosaico de 800 mil hectares de floresta nacional protegida, em parceria com o ICMBio. Apenas 3% dessa área foi utilizada para mineração, enquanto 97% permanece conservada. Hoje, essas áreas armazenam cerca de 601 milhões de toneladas de CO₂ equivalente, transformando-se em um dos maiores reservatórios naturais de carbono do planeta. O contraste com o chamado “arco do desmatamento” da Amazônia é evidente: em regiões onde a floresta foi desprotegida, as perdas chegaram a quase 70% nas últimas quatro décadas.
Para Alex Carvalho, o momento reforça a necessidade de olhar a Amazônia de forma mais estratégica e menos polarizada. “Devemos rejeitar ambos os extremos: a negação das mudanças climáticas e a visão romantizada da Amazônia como um ‘museu verde’ congelado no tempo. A Amazônia é o lar de mais de 28 milhões de pessoas, cujos direitos, meios de subsistência e aspirações precisam fazer parte de qualquer futuro sustentável. Preservar a floresta e melhorar a qualidade de vida na região não são objetivos opostos, mas inseparáveis”, concluiu.