Simpósio de Lubrificantes discute papel do setor na nova mobilidade

Simpósio de Lubrificantes discute papel do setor na nova mobilidade

  • Evento da AEA – Associação Brasileira de Engenharia Automotiva, ocorrido nesta quarta-feira, 22 de novembro, destaca sustentabilidade, eletrificação, digitalização e lubrificação como pilares da transformação automotiva.

Simpósio de Lubrificantes discute papel do setor na nova mobilidade

 

Em um momento de transformações profundas na mobilidade, o XVIII Simpósio Internacional de Lubrificantes, Aditivos e Fluidos, promovido pela AEA – Associação Brasileira de Engenharia Automotiva, reuniu em São Paulo especialistas da indústria, do meio acadêmico e do setor público para discutir os desafios e as oportunidades que moldam o futuro automotivo. Sob o tema “Mobilidade em Transformação: Sustentabilidade, Eletrificação, Digitalização e Lubrificação”, o evento destacou o papel estratégico dos lubrificantes na eficiência energética, na durabilidade dos sistemas e na transição para uma mobilidade mais limpa, conectada e inteligente.

 

Na abertura, o presidente da AEA, Marcus Vinicius Aguiar, ressaltou que a transformação da mobilidade abre novas oportunidades para o setor de lubrificantes. “Mesmo com o avanço da eletrificação, os lubrificantes continuam a ter papel estratégico, acompanhando a inovação e garantindo que a eficiência e a durabilidade sigam no centro da engenharia automotiva”, afirmou.

Já a coordenadora do simpósio, Fernanda Ribeiro, destacou o caráter técnico e colaborativo do encontro, que se consolida como o principal fórum da área na América Latina. “O simpósio reafirma o compromisso da AEA com a sustentabilidade, ao reunir indústria, academia e governo para responder aos desafios contemporâneos da engenharia automotiva. Sustentabilidade, eletrificação, digitalização e lubrificação são pilares complementares que impulsionam a eficiência e a durabilidade dos sistemas”, completou.

sessão 1 foi dedicada ao tema “Sustentabilidade na Cadeia Automotiva” e trouxe no primeiro painel o tema “Carbono neutro na prática: avaliação do ciclo de vida de componentes e lubrificantes”, apresentado por Marco Garcia, da Scania, destacou a importância de uma visão integrada da sustentabilidade automotiva. A palestra mostrou que alcançar a neutralidade de carbono exige analisar todo o ciclo de vida dos produtos — da origem das matérias-primas ao uso e à reciclagem — e que os lubrificantes têm papel essencial nesse processo, por influenciarem diretamente a eficiência energética e a durabilidade dos sistemas.

Na sequência, Carolina Laguna Pimenta, da Lwart, apresentou o tema “Rerrefino e suas contribuições para o segmento automotivo”, destacando o papel da economia circular como solução concreta e já disponível para a descarbonização do setor. A palestrante ressaltou que o rerrefino é um processo altamente eficiente e de baixo impacto ambiental, capaz de gerar óleos básicos com desempenho comprovado e pegada de carbono 77% menor em relação ao óleo de primeiro refino. O Brasil, terceiro maior produtor mundial de óleo rerrefinado, vem se consolidando como referência tecnológica nessa área. Segundo Carolina, o sucesso do modelo depende do fortalecimento da cadeia de coleta, do uso de tecnologias avançadas e do engajamento de toda a indústria automotiva — de fabricantes de lubrificantes a montadoras — na adoção de práticas circulares e sustentáveis.

Keurrie Goes, da Transpetro, expôs como implementar ESG em grandes empresas. A executiva enfatizou que a agenda ESG deve ser tratada como uma necessidade estratégica e não como tendência passageira, destacando o impacto direto das mudanças climáticas sobre as operações corporativas e sobre as pessoas. Compartilhando experiências vividas durante as enchentes no Rio Grande do Sul, Keurrie ilustrou como eventos climáticos extremos testam a resiliência das empresas e a importância de integrar ambiente, sociedade e governança na gestão de riscos. Ela também reforçou que a diversidade nos espaços de decisão é essencial para acelerar avanços reais e que as metas de sustentabilidade devem estar vinculadas aos indicadores de desempenho e de remuneração variável, garantindo que o ESG esteja efetivamente incorporado à estratégia de negócio.

sessão 2 – “Inteligência Artificial e Digitalização” começou com a palestra de Iago Castro, da Vibra Energia, que falou sobre Indústria 4.0 e digitalização na cadeia automotiva. Ele destacou como a integração de dados, automação e inteligência artificial vem transformando a eficiência operacional e a segurança industrial e detalhou a implementação de um sistema de comunicação machine-to-machine, no qual as máquinas trocam informações em tempo real para otimizar processos, reduzir falhas e antecipar paradas não programadas.

Fechando a sessão 2 e a parte da manhã, Leonardo Giglio, da I+T, falou sobre “Medição On-line de Consumo de Óleo Lubrificante em Motores de Combustão”. A apresentação mostrou uma nova tecnologia de medição baseada em espectrometria de massa, capaz de detectar com altíssima precisão o consumo de óleo lubrificante em motores durante testes. Diferente do método tradicional por pesagem — lento, caro e limitado a condições estacionárias — o equipamento realiza a medição em tempo real, segundo a segundo, inclusive em ciclos transientes, que são os que mais se aproximam das condições reais de operação. Isso permite não apenas reduzir tempo e custo de testes, mas gerar dados de qualidade laboratorial que ajudam a identificar exatamente em quais pontos e regimes o motor está queimando óleo.

Abrindo a parte da tarde e a sessão 3, que tratou de “Eletrificação Veicular: Panorama e Fluidos Funcionais”, Everton Lopes, da Mahle, trouxe um panorama da eletrificação automotiva no Brasil e no mundo. Em sua apresentação, Everton discorreu fatos como o de que, embora o tema de emissões muitas vezes esteja concentrado nos transportes, ele representa apenas 14% da emissão de CO2 do Brasil. Ainda assim, o país participa do esforço global de redução de CO₂ e precisa lidar com a transição energética em um cenário onde a infraestrutura, a matriz energética já renovável e o perfil econômico diferem do hemisfério norte. Essa assimetria explica por que a eletrificação plena ocorrerá primeiro nos países desenvolvidos, enquanto o sul global seguirá com diversidade tecnológica: elétricos onde faz sentido, híbridos como solução de transição, e combustíveis renováveis nos segmentos de maior demanda energética.

Dentro dessa transformação, ganha relevância um tema pouco discutido fora do ambiente técnico: o papel dos fluidos. De acordo com Everton, eles continuam essenciais, mesmo em veículos eletrificados, porque a gestão térmica é determinante para eficiência, autonomia, segurança e vida útil das baterias e componentes eletrônicos. Ao mesmo tempo, o crescimento dos híbridos reacende a necessidade de soluções avançadas para motores a combustão integrados a sistemas elétricos, o que aumenta a complexidade tecnológica e a demanda por novos tipos de fluídos especializados. Ou seja, a transição não elimina o setor, mas o transforma: exige produtos mais técnicos, sustentáveis e adequados à multiplicidade de plataformas que o futuro da mobilidade já está consolidando.

Na sequência, Paulo Berto, da Iconic, falou como a eletrificação mudou o papel dos fluidos do carro, deixando de ser “apenas fluido de radiador” e passando a ser responsáveis pela segurança do sistema elétrico. Isso porque, no veículo elétrico ou híbrido, esse fluido circula em áreas que ficam muito próximas de cabos, baterias e inversores. Se o fluido “conduz eletricidade”, como acontece com os fluidos tradicionais, qualquer vazamento ou dano no sistema pode virar risco de curto-circuito e até incêndio. Por isso, estão surgindo novos padrões, como os da China, que exigem fluidos especiais que não conduzam eletricidade, justamente para evitar esse tipo de acidente.

Na última palestra da sessão 3, Leandro Benvenutti, da Infineum, destacou o papel dos lubrificantes especializados no avanço da eletrificação automotiva. O palestrante explicou que, embora os veículos elétricos já apresentem níveis de eficiência superiores, ainda há espaço para otimização, especialmente nos sistemas de propulsão integrados (Electrical Drive Units), onde o mesmo fluido é responsável por lubrificar e refrigerar componentes de alta rotação e tensão. Bevenutti mostrou resultados de testes que comprovaram ganhos de até 1,5% em eficiência energética e excelente desempenho em durabilidade, com resistência a desgaste mesmo em condições extremas. Segundo ele, o desenvolvimento de fluidos de baixíssima viscosidade e alta estabilidade térmica será decisivo para garantir maior autonomia, segurança e vida útil dos sistemas elétricos.

A última parte do simpósio foi dedicada ao tema “Fluidos e Lubrificantes: Desafios e Oportunidades”, com duas palestras e um debate. O primeiro a falar foi Marcus Vercelino, da Lubrizol, com o tema “Tendências e desafios no desenvolvimento das novas categorias: PC-12”, que focou nas próximas gerações de lubrificantes para motores pesados. Vercelino contextualizou a criação da categoria PC-12, que sucederá as atuais CK-4 e FA-4, destacando seu alinhamento com as futuras normas de emissões Euro 7 e EPA 2027, que exigem níveis ainda mais baixos de NOx, CO₂ e material particulado. A nova formulação demandará óleos de menor viscosidade, maior estabilidade e menor teor de cinzas sulfatadas, fósforo e enxofre, sem comprometer a durabilidade e a proteção dos motores. Vercelino também alertou para o uso incorreto de lubrificantes no Brasil — onde grande parte da frota ainda opera com produtos acima dos limites recomendados — e reforçou que o avanço tecnológico da indústria é essencial para garantir eficiência energética, redução de emissões e maior vida útil dos veículos comerciais e agrícolas.

Para fechar o bloco de palestras, Charles Assunção, da Petrobras, apresentou o tema “Influência do Etanol na Corrosividade de Óleos Lubrificantes de Motor GDI Flex Fuel”, destacando os impactos do aumento do teor de etanol na gasolina brasileira. O especialista mostrou que, embora o etanol traga ganhos ambientais, seu uso em maiores concentrações pode elevar a corrosividade e afetar a viscosidade dos lubrificantes, especialmente em motores com injeção direta. O estudo reforça a importância de desenvolver novos aditivos e métodos de ensaio específicos para o cenário brasileiro, garantindo o desempenho e a durabilidade dos motores flex.

O XVIII Simpósio Internacional de Lubrificantes, Aditivos e Fluidos terminou com um debate com um representante de cada uma das quatro sessões do evento. Everton Lopes, da Mahle, representando o tema Eletrificação Veicular; Leonardo Giglio, palestrante da sessão Digitalização e IA; Marco Garcia, do tema Sustentabilidade e Marcus Vercelino, de Fluidos e Lubrificantes. A mediação ficou a cargo de Margareth Carvalho, da Infineum.

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