Tecnologia orienta a gestão da água em propriedades familiares do Semiárido

Tecnologia orienta a gestão da água em propriedades familiares do Semiárido

Tecnologia orienta a gestão da água em propriedades familiares do Semiárido

Barragem subterrânea em São José da Tapera (Alagoas). Foto: Fernando Gregio

  • A barragem subterrânea é uma tecnologia social hídrica consolidada para garantir umidade do solo, mas depende de condições específicas para funcionar bem.
  • O novo aplicativo facilita a identificação de áreas com potencial para sua implantação e indica o tipo mais apropriado de estrutura.
  • A ferramenta também sugere práticas de manejo da água, do solo e de cultivos agrícolas adaptados a cada propriedade.
  • O GuardeÁgua foi codesenvolvido com agricultores e integra as políticas públicas do MDS para o Semiárido.
  • O lançamento da ferramenta digital ocorre no dia 10 de dezembro, em Santana do Ipanema (AL).

Famílias agricultoras do Semiárido brasileiro e técnicos extensionistas já contam com o aplicativo GuardeÁgua, que auxilia na identificação de áreas apropriadas à construção de barragem subterrânea e de sugestões gerais de práticas de manejo do solo e da água, bem como opções de cultivos apropriados aos locais de plantio. O lançamento oficial do produto, disponível gratuitamente na loja virtual do Google (Play Store), será no dia 10 de dezembro, no Sertão alagoano (veja mais detalhes em quadro abaixo).

Desenvolvido pela Embrapa Solos (RJ), em parceria com a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), sob liderança da Unidade de Execução de Pesquisa e Desenvolvimento de Recife (UEP Recife), o aplicativo está disponível para Android, na versão beta, além de contar com uma plataforma na versão web. A tecnologia recebeu aporte financeiro do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) e fará parte das políticas públicas voltadas para a segurança alimentar, assistência social e redução da pobreza no Semiárido desenvolvidas pela pasta.

Lançamento no Sertão alagoano

O lançamento oficial do aplicativo GuardeÁgua acontece no dia 10 de dezembro, em Santana do Ipanema (AL). A cerimônia, que começa às 9 horas, no hotel Privillege, contará com representantes do MDS, Embrapa e ASA. Agricultores adotantes da barragem subterrânea terão participação central no evento, com depoimentos e troca de saberes – acesse a programação completa.

No período da tarde, famílias agricultoras e técnicos de extensão rural participam de uma capacitação no uso da plataforma GuardeÁgua, composta pelo aplicativo e plataforma website. A atividade será realizada no Sítio Bananeira, em São José da Tapera (AL). Na quinta-feira (11/12), uma caravana do saber segue para o Sítio Cachoeirinha, na mesma cidade, onde acontece outra sessão de capacitação, a partir das 9 horas.

“Ver essa iniciativa se concretizar é motivo de orgulho para o MDS. O aplicativo é resultado de uma parceria sólida, construída com diálogo, conhecimento técnico e profundo respeito ao saber das comunidades. Ele representa um avanço significativo na política pública de convivência com o Semiárido e reforça o nosso compromisso com ações que promovem autonomia, dignidade e melhoria de vida para as famílias”, reforça afirma o coordenador-geral de Acesso à Água da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sesan) do MDS, Vitor Santana.

“O aplicativo GuardeÁgua é uma ferramenta que reforça o compromisso do MDS com a promoção da segurança hídrica e do desenvolvimento sustentável no Semiárido brasileiro. Financiar o seu desenvolvimento foi uma decisão estratégica, pois acreditamos no potencial dessa tecnologia para fortalecer o trabalho de técnicos e agricultoras e agricultores familiares, garantindo informações precisas, planejamento mais eficiente e melhores condições para a construção de barragens subterrâneas, que é uma das tecnologias apoiadas no âmbito do Programa Cisternas”, enfatiza Santana.

A barragem subterrânea é uma tecnologia social hídrica já consolidada e que facilita a convivência com a seca ao garantir umidade no solo para plantio durante boa parte do ano. Porém, nem todo local é apropriado para a sua construção, e identificar um ponto realmente adequado pode ser um desafio, sobretudo porque nem sempre há condições técnicas que auxiliem nesse processo. O aplicativo GuardeÁgua foi criado justamente para permitir que técnicos e agricultores tenham em mãos uma ferramenta que torne mais assertivo o processo de identificação de áreas com potencial para implantação, além de sugerir o tipo e o modelo mais apropriados de estrutura.

“O GuardeÁgua também fornece sugestões sobre o manejo da água, do solo e de cultivos agrícolas compatíveis com as características da área avaliada, cabendo à família agricultora, em parceria com os técnicos, decidir o que é melhor para ela. Dessa forma, o aplicativo contribui para o uso eficiente dos recursos naturais e para o fortalecimento da segurança hídrica e alimentar, especialmente em regiões semiáridas”, explica Flávio Adriano Marques, pesquisador e coordenador técnico da Embrapa Solos UEP Recife.

Respostas a partir de dados simples

Os especialistas explicam que os dados de entrada para o funcionamento do aplicativo referem-se ao solo (textura e profundidade), rocha, declividade, qualidade do solo e da água (salinização), localização da propriedade em relação à nascente e vegetação. “Com essas informações cadastradas corretamente, o GuardeÁgua é uma excelente ferramenta para planejamento da propriedade rural em locais de instabilidade hídrica, tornando a convivência com a seca mais saudável e produtiva”, explica Alexandre Barros, pesquisador da Embrapa Solos.

“O aplicativo automatiza uma resposta importante sobre a viabilidade ou não de instalação de uma barragem subterrânea na propriedade rural. Antes dele, muitas vezes, a resposta sobre a viabilidade era fornecida com base no bom senso dos técnicos e técnicas ou agricultores e agricultoras. Agora, essa decisão pode ser lastreada em informações técnicas, evitando instalar essa tecnologia social hídrica em locais inadequados, que levava a prejuízos materiais e de tempo, além de frustação da família”, complementa Antonio Gomes Barbosa, coordenador do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da ASA.

Os pesquisadores da Embrapa lembram que o aplicativo GuardeÁgua complementa o zoneamento das áreas potenciais para construção de barragens subterrâneas no Sertão de Alagoas (ZonBarragem) existente desde 2019, e que fornece informações sobre a viabilidade de instalação de barragens subterrâneas em nível de planejamento regional (escala 1:100.000) para 38 municípios alagoanos. “O app GuardeÁgua fornece o mesmo tipo de informação, só que em uma escala da propriedade rural, permitindo que o agricultor ou técnico possa tomar a decisão de instalar ou não uma barragem subterrânea em seu sítio. E o aplicativo pode ser utilizado em todo o Semiárido brasileiro”, detalha Barros.

O aplicativo passou por testes de validação com técnicos e agricultores nos estados de Alagoas (municípios de Mata Grande e Santana do Ipanema), Rio Grande do Norte (Riachuelo e São Paulo do Potengi), Pernambuco (Pesqueira, Arcoverde e Sertânia) e Paraíba (Remígio, Soledade e Solânea).

Homenagem especial

O desenvolvimento do aplicativo GuardeÁgua vinha sendo liderado pelo pesquisador da Embrapa Solos Luís de França da Silva Neto, que faleceu precocemente, aos 44 anos, em outubro de 2024.

“Todos ficamos muito abalados com a perda repentina do querido amigo. Mas a equipe do projeto encontrou forças para continuar os trabalhos, também como uma forma de preservar a memória e o legado de Luís de França. Ele partiu cedo demais e, ainda assim, deixou resultados de destaque em diversos projetos na área de solos, especialmente no uso de tecnologias inovadoras para a classificação e manejo de solos e no desenvolvimento da Agricultura Familiar, em especial na tecnologia social de barragem subterrânea”, recorda a também pesquisadora da Embrapa Solos Maria Sonia da Silva.

Projeto GuardeÁgua

 GuardeÁgua, liderado pela Embrapa Solos, é um projeto de inovação social que está sendo desenvolvido desde julho de 2023 nos territórios do Agreste, Médio e Alto Sertão de Alagoas, em localidades com agricultores que são referência na adoção da tecnologia social de barragem subterrânea. Por isso, foram selecionados para serem multiplicadores irradiadores das inovações tecnológicas desenvolvidas em suas comunidades.

“O GuardeÁgua é codesenvolvido com famílias de agricultores, a partir de suas demandas. Estamos aprimorando sistemas de manejo da água, solo e cultivos para aumentar a sustentabilidade de agroecossistemas que contam com barragem subterrânea, para fortalecer a reprodução social, econômica e ecológica em áreas sujeitas à escassez de chuva. E o aplicativo GuardeÁgua, uma das entregas do projeto, será uma ferramenta importante não somente para agricultores de Alagoas, mas de todo o Semiárido brasileiro”, observa Maria Sonia, que é a pesquisadora-líder do projeto.

Ela explica que a iniciativa conta com a participação ativa de uma rede sociotécnica voltada à formação de capacidades locais, com planejamento e implementação de estratégias para fortalecer espaços solidários com autogestão e protagonismo das famílias.

Os pesquisadores e técnicos envolvidos no projeto ressaltam que a implantação de tecnologias sociais de captação e estocagem da água de chuva para usos múltiplos tem aumentado muito nos últimos anos, por meio de programas governamentais e de iniciativas individuais de agricultores, que buscam a inclusão socioprodutiva, geração de renda e de valor e autonomia e dignidade das famílias agricultoras da região.

São parceiros da Embrapa no GuardeÁgua: famílias agricultoras selecionadas, MDS, Instituto Federal de Alagoas (Ifal), Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Alagoas (Faeal/Senar) e Articulação Semiárido Brasileiro /ASA Alagoas (ITViva, Aagra, Cactus e Cdecma).

Barragem subterrânea: como funciona

A tecnologia da barragem subterrânea consiste, basicamente, na utilização de uma lona plástica que desce no solo a profundidades de 3 a 5 metros, em valas cavadas em regiões de áreas agrícolas com declives suaves. Como a água das chuvas fica retida pela lona, o solo fica umedecido durante vários meses, tornando-se apto para o cultivo. É construído também um sangradouro para quando ocorrem fluxos de água acima do esperado, o que permite que essa água adicional seja acumulada em poços.

Essa tecnologia social é indicada para regiões de instabilidade hídrica, como é o caso do Semiárido brasileiro. Dessa forma, a água das poucas chuvas que ocorrem durante o ano fica estocada no interior do solo de forma que a umidade permita o cultivo durante três a cinco meses após o período chuvoso, a depender das chuvas ocorridas no ano.

A barragem subterrânea é de domínio público, e as ações de pesquisa e desenvolvimento vêm sendo desenvolvidas desde a década de 1980, inicialmente pela Embrapa Semiárido (PE), dando origem ao seu modelo atual com algumas inovações, a exemplo da utilização de lonas plásticas, em vez de pedras e cimento. A partir de 2007, a Embrapa Solos, por meio da UEP Recife, iniciou o desenvolvimento de estudos técnico-científicos que têm contribuído com estratégias de mitigação e adaptação da barragem subterrânea às mudanças climáticas na região. O aplicativo GuardeÁgua é a mais recente inovação agregada à tecnologia.

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