Tecnologias de agricultura digital crescem três vezes mais rápido que a média, diante do crescente desafio da segurança alimentar global
- América Latina e Ásia tiveram as maiores taxas de crescimento no período de 2000 a 2022
- Tendências globais em agricultura inteligente incluem tecnologias de imagem e sensoriamento, ferramentas de automação, drones e inteligência artificial (IA)
- Brasil se destaca como um ator-chave, produzindo alimento suficiente para abastecer uma em cada dez pessoas (11%) no mundo
Com a expectativa de que a população mundial ultrapasse 10 bilhões até 2050, o desafio de produzir alimentos suficientes nunca foi tão grande. Um novo relatório do Observatório de Patentes e Tecnologia da Organização Europeia de Patentes (OEP) destaca como as tecnologias digitais estão ajudando a atender a essa demanda de forma sustentável. Segundo o estudo, os pedidos de patentes em agricultura digital têm registrado um crescimento médio de 9,4% ao ano — três vezes a taxa média de crescimento em todas as demais tecnologias.
“A agricultura digital avança em um ritmo sem precedentes, transformando a forma como produzimos alimentos diante de desafios globais urgentes”, afirmou o presidente da OEP, António Campinos. “Ao alinhar pesquisa e tecnologias às necessidades do mundo real e fortalecer a cooperação global, apoiados por um sistema de patentes sólido e por plataformas abertas de conhecimento, podemos construir sistemas alimentares resilientes e justos.”
Agricultura digital ao redor do mundo
O Brasil se destaca como um ator-chave no mais recente relatório da OEP sobre agricultura digital. O país produz alimento suficiente para abastecer uma em cada dez pessoas no mundo e consolida sua posição como um dos principais polos de inovação sustentável e digital no agronegócio.
A Europa segue na liderança em atividade de patentes para tecnologias de agricultura digital, apoiada por um ecossistema próspero de 194 startups e 125 universidades ativas na área. O relatório também revela crescimento acelerado na Ásia e na América Latina. A Ásia ultrapassou a América do Norte em pedidos de patentes em 2020, enquanto a América Latina registrou uma taxa de crescimento anual de 11% no período de 2000 a 2022.
O relatório dedica foco especial à América Latina. Com base no desempenho histórico de produção e exportação entre 2010 e 2020, projeta-se que, até 2050, a região poderá fornecer de dois a três em cada cinco frutas e hortaliças globalmente (World Economic Forum, 2024). O estudo destaca avanços em tecnologias agrícolas sustentáveis no Brasil, Chile, Colômbia, Peru e México. Além disso, os institutos nacionais de patentes desses cinco países contribuíram com análises para o relatório, ressaltando como os sistemas de inovação de cada um estão aproveitando as tecnologias de agricultura digital para fortalecer a segurança alimentar, o desenvolvimento rural e a competitividade econômica.
De acordo com um estudo publicado pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), o Brasil ocupa a nona posição global como fonte de patentes em agricultura sustentável. A média mundial mostra que 15,7% das invenções em agricultura sustentável no Brasil estão relacionadas à agricultura digital, acima da média global. Além disso, uma em cada cinco invenções em agricultura digital é depositada no INPI por requerentes locais, uma proporção que dobrou ao longo da década de 2010.
“O agronegócio no Brasil é intensivo em tecnologia e, portanto, vem avançando cada vez mais em inovação para um futuro sustentável, com a participação decisiva de instituições como a Embrapa”, disse Julio César Moreira, presidente do Instituto Nacional da Propriedade Industrial. “Nesse contexto, o INPI contribui para estimular o uso estratégico da propriedade intelectual, inclusive na Região Amazônica, fomentando a geração de emprego, renda e desenvolvimento para todos os brasileiros”.
Tecnologias que impulsionam a transformação
Tecnologias transversais como imagem e sensoriamento estão moldando o cenário da agricultura digital, ao lado de inovações que permitem aos agricultores automatizar tarefas como pulverização e colheita com maior precisão e eficiência. Desde 2018, o uso de drones e IA disparou, apoiando o monitoramento em tempo real e a análise preditiva em operações agrícolas.
A inovação global nesse campo é cada vez mais impulsionada pela indústria, com as empresas respondendo por 88% dos depósitos de patentes em agricultura digital em 2022. Entre os principais inovadores estão fabricantes globais de máquinas agrícolas como John Deere (EUA), CNH Industrial (Holanda/Reino Unido), Claas (Alemanha), Kubota (Japão) e Amazonen Werke (Alemanha).
Tecnologia brasileira reduzir perdas de safra por eventos climáticos extremos
Na vanguarda da inovação agrícola brasileira está a empresa pública Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Uma unidade especializada, a Embrapa Agricultura Digital, é dedicada exclusivamente ao desenvolvimento de soluções digitais para o campo. Sua missão é oferecer ferramentas como softwares, bancos de dados, sistemas de monitoramento e aplicativos que melhorem a tomada de decisão, a gestão e o acompanhamento da produção agrícola.
Um dos projetos de destaque da Embrapa é o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), um aplicativo móvel baseado em modelos agrometeorológicos avançados. O ZARC auxilia os produtores a identificar regiões e períodos de plantio mais adequados, calculando a probabilidade de perdas de safra devido a eventos meteorológicos. Isso oferece aos produtores rurais uma ferramenta orientada por dados para minimizar riscos associados à variabilidade climática, aumentando a resiliência no planejamento agrícola.
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