“Terra”: exposição na Bienal de Arquitetura mostra como a construção com terra pode enfrentar as mudanças climáticas
A proposta é evidenciar como a terra, um material acessível, de baixo impacto ambiental e carregado de memória cultural, pode ser ressignificada como solução contemporânea para modos de habitar mais justos e resilientes

A exposição “Terra” é um dos destaques da 14ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, que ocorre até 19 de outubro no Pavilhão da Oca, no Parque Ibirapuera, em São Paulo (SP). A mostra convida o público a refletir sobre como a arquitetura pode responder à crise climática a partir do uso de materiais sustentáveis na construção, especialmente a terra crua, um recurso ancestral que se apresenta como alternativa para o futuro da construção. Com o apoio do Instituto Francês, a exposição é resultado de uma colaboração entre instituições e arquitetos de referência no tema. Estão previstas ainda uma oficina, no sábado, dia 11 de outubro, e uma roda de conversa, no domingo, dia 12 de outubro, com a mesma temática.
Integram a curadoria o grupo francês CRAterre, com longa experiência no acompanhamento técnico de projetos de construção com terra crua e em iniciativas habitacionais em diferentes contextos, o NAP PLAC – Núcleo de Apoio à Pesquisa: Produção e Linguagem do Ambiente Construído, da FAU USP, que traz a força da pesquisa acadêmica brasileira, o Argus Caruso Arquitetura, dirigido pelo arquiteto Argus Caruso, e o Laboraterra Arquitetura, comandado pelos arquitetos Alain Briatte e Luciano Bottino, estúdios conhecidos por apresentarem projetos que ressignificam o uso da terra na arquitetura contemporânea.
Argus Caruso, que é um dos curadores, explica que a mostra é fruto de encontros entre pessoas, ideias e saberes que se dedicaram a observar, pesquisar e experimentar formas de narrar, por meio dos materiais, o processo coletivo de produção do espaço arquitetônico. “O que apresentamos na ocasião nasce da composição, das descobertas e da colaboração. Nosso objetivo é contribuir para o futuro da construção civil a partir da perspectiva da construção agroecológica”.
Ao caminhar pela exposição, o visitante percorre uma trajetória: primeiro, os materiais primários que dão origem a tudo; depois, os ensaios científicos guiados pela experiência e pelo contato direto com a terra; as ferramentas que possibilitam o trabalho; as pessoas que o realizam; o processo construtivo que une prática e aprendizado; e, por fim, o projeto final, a arquitetura, que sintetiza todas essas etapas.
Inserida no eixo expositivo da Bienal dedicado ao tema “Extremos: Arquitetura para um Mundo Quente”, a exposição parte da urgência imposta pelo aquecimento global e pelos eventos climáticos extremos. A proposta é evidenciar como a terra, um material acessível, de baixo impacto ambiental e carregado de memória cultural, pode ser ressignificada como solução contemporânea para modos de habitar mais justos e resilientes.
Como parte da programação de atividades especiais no espaço da Bienal, os curadores da mostra ministram uma oficina sobre como transformar uma matéria-prima em um material de construção sustentável, em 11 de outubro, e uma roda de conversa, em 12 de outubro, aprofundando as discussões sobre técnicas de construção com terra e sua relevância frente às mudanças climáticas. Esses eventos oferecem ao público a oportunidade de vivenciar práticas e debater caminhos para uma construção mais sustentável e socialmente justa.
A bioconstrução como um caminho mais sustentável
Em seu escritório, Argus Caruso projeta, coordena obras, desenvolve mobiliários e oferece oficinas e consultorias sobre técnicas construtivas com terra crua. “Para falar sobre um futuro mais sustentável precisamos nos conectar com um saber que é ancestral e trazer isso para nossa realidade, que precisa estar mais consciente dos impactos causados pelas obras. A arquitetura tem o dever de pensar além da estética. Hoje, nosso maior desafio é responder às mudanças climáticas criando soluções que unam design, técnica e responsabilidade ambiental. Trabalhar com a terra nos reconecta à natureza, não gera impactos de carbono e não deixa resíduos. É essa consciência que norteia os nossos projetos”, afirma Caruso.
Outros exemplos emblemáticos são as tintas de terra, que têm se consolidado como uma solução inovadora e sustentável na construção civil, e os tetos verdes. Feitas a partir de pigmentos minerais extraídos do solo, as tintas de terra reduzem significativamente o impacto ambiental por dispensarem processos industriais complexos e produtos químicos agressivos. “Além de contribuir para a qualidade do ar interno e para o bem-estar dos ocupantes, essas tintas oferecem durabilidade, baixo custo de produção e uma paleta natural de cores, valorizando o aspecto estético dos projetos”, explica o Caruso. Já os tetos verdes, também conhecidos como coberturas vegetadas, oferecem múltiplos benefícios ambientais.
“Ao substituir superfícies impermeáveis por camadas de vegetação, os tetos verdes ajudam a reduzir a temperatura das cidades, minimizando o efeito das ilhas de calor urbano. Além disso, contribuem para o isolamento térmico e acústico dos edifícios, diminuem a necessidade de uso de ar-condicionado e retêm parte da água da chuva, aliviando a pressão sobre os sistemas de drenagem urbana”, comenta o arquiteto. Outro ponto positivo é o ganho em biodiversidade, já que funcionam como pequenos ecossistemas em meio ao espaço construído.
O mercado global de materiais de construção sustentáveis vem crescendo. Estimado em US$ 301,6 bilhões em 2024, tem previsão de atingir US$ 907,1 bilhões até 2034, em CAGR anual de ~11,9 %. Dentro desse universo, bioconstruções, biocompostos, materiais bioengenheirados e insulantes naturais vêm se destacando como nichos de rápido crescimento.
Serviço
- Exposição: Terra – construindo um futuro sustentável
- Evento: 14ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo
- Local: Pavilhão da Oca, Parque Ibirapuera, São Paulo – SP
- Período: até 19 de outubro de 2025
- Atividades especiais: oficina (11 de outubro), roda de conversa (12 de outubro)
- Horário de visitação: de terça a domingo, das 10h às 20h
- Mais informações: https://bienaldearquitetura.
org.br/programacao/terra/