Horta caseira: quando e como utilizar fertilizantes no período mais quente do ano?

Por Valter Casarin, coordenador geral e científico da iniciativa NPV
Com a chegada do verão, o cuidado com a horta ganha um reforço importante: a adubação. As altas temperaturas aceleram o crescimento das plantas, mas também aumentam o consumo de água e nutrientes do solo. Por isso, alimentar corretamente a horta durante essa estação é fundamental para garantir desenvolvimento vigoroso e boa produtividade.
Ao longo do ciclo de crescimento, as plantas retiram do solo os nutrientes necessários para formar folhas, caules, raízes e frutos. Hortaliças como o tomate, por exemplo, são altamente exigentes: para produzir frutos de qualidade, a planta consome grandes quantidades de minerais e água. Sem reposição adequada, o solo se empobrece rapidamente, comprometendo a colheita.
O verão também é um período propício para o cultivo de espécies como repolho, alface e rúcula. Antes do plantio, porém, é essencial avaliar se o solo está bem preparado. Dependendo de sua composição e histórico de uso, pode ser necessário enriquecer a área com fertilizantes orgânicos e uma boa camada de cobertura morta, que ajuda a manter a umidade e a vida do solo.
Fertilizantes: efeito imediato ou gradual
Os fertilizantes minerais têm ação rápida, pois os nutrientes ficam imediatamente disponíveis para as plantas. Já os fertilizantes orgânicos exigem tempo: o solo precisa decompor a matéria orgânica para que os elementos possam ser absorvidos. Alguns produtos, como grânulos de esterco, levam cerca de dois meses para começar a apresentar resultados.
Na adubação, “mais” não significa “melhor”. O excesso de nutrientes pode alterar o sabor das hortaliças e até favorecer o surgimento de doenças fúngicas, já que tecidos muito macios se tornam mais suscetíveis a ataques. O equilíbrio é a chave.
Esse conceito é conhecido como “alimentar o solo para alimentar a planta” e está diretamente ligado ao chamado Triângulo Mágico do NPK (nitrogênio, fósforo e potássio). O nitrogênio estimula o crescimento das partes verdes; o fósforo favorece o desenvolvimento das raízes e a floração; e o potássio fortalece as defesas da planta e contribui para a formação dos frutos.
Além do NPK, os micronutrientes merecem atenção. Elementos como manganês, ferro, zinco e boro, embora necessários em pequenas quantidades, fazem grande diferença. Ignorá-los pode resultar em deficiências difíceis de identificar, mesmo quando o NPK está adequado.
Para hortaliças, recomenda-se o fornecimento regular de nutrientes ao longo da estação de crescimento. Fertilizantes granulados podem ser aplicados a cada três ou quatro semanas, enquanto os solúveis em água costumam ser usados semanalmente, junto com a rega.
O mercado oferece produtos específicos para diferentes culturas, hortaliças, frutas, flores ou uso geral, cada um com uma proporção própria de N-P-K. Sempre que possível, o ideal é optar por fertilizantes adequados ao tipo de planta cultivada. Ainda assim, o uso de um produto destinado a flores, por exemplo, não costuma causar prejuízos às hortaliças.
Atenção aos erros mais comuns
Um equívoco frequente é aplicar as mesmas regras da agricultura em grandes áreas a canteiros pequenos ou vasos. Solos agrícolas consolidados contam com um ecossistema subterrâneo complexo, algo que não existe em espaços limitados com substratos comerciais. Nesses casos, as plantas precisam de uma nutrição mais precisa e complementar.
Outro fator pouco considerado é o estresse urbano. Em cidades, as plantas enfrentam poluição, variações bruscas de temperatura e ventos secos entre prédios. Essas condições aumentam a demanda nutricional e exigem um manejo mais cuidadoso para manter a resistência e a saúde da horta.
Com informação, equilíbrio e planejamento, a adubação de verão deixa de ser um desafio e se torna uma aliada para colheitas mais abundantes e saudáveis.
*Valter Casarin, coordenador geral e científico da Nutrientes Para a Vida é graduado em Agronomia pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP, Jaboticabal, em 1986 e em Engenharia Florestal pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”/USP, Piracicaba, em 1994.






