Pesquisador destaca os desafios para satélites monitorarem a intensificação agrícola no Cerrado

Pesquisador destaca os desafios para satélites monitorarem a intensificação agrícola no Cerrado

Pesquisador destaca os desafios para satélites monitorarem a intensificação agrícola no Cerrado

Tecnologias da Embrapa que promovem uma agricultura sustentável e os desafios atuais de se monitorar a intensificação agrícola no Cerrado por meio de satélites. Esses foram os temas da palestra do pesquisador da Embrapa Cerrados, Edson Sano, durante o workshop sobre sistema de monitoramento de carbono do Cerrado em larga escala espaço-temporal (CMS4D, sigla em inglês), realizado na Universidade de Brasília. O evento ocorreu de 13 a 15 de agosto, de forma presencial e online.

O pesquisador Edson Sano, especialista em sensoriamento remoto e geoprocessamento aplicado à agricultura e ao meio ambiente, mostrou, na programação do dia 14, algumas tecnologias que ajudam a minimizar a ocorrência de fogo e a emissão de carbono na atmosfera, evidenciando as mais importantes para o desenvolvimento de uma agricultura mais sustentável. Ênfase foi dada para a relevância do desenvolvimento de tecnologias no sentido de que a produção pudesse ser aumentada sem necessariamente aumentar a área agrícola plantada.

De acordo com o especialista, para atingir a produção atual de grãos do Brasil (210 milhões de toneladas) com a tecnologia disponível há 25 anos, seria necessária uma expansão agrícola adicional de 140 milhões de hectares. “Por outro lado, devido a esses avanços na complexidade dos sistemas de produção, também temos que ter progressos na tecnologia espacial para tentar melhorar a acurácia desses monitoramentos agrícolas”, afirmou.

O workshop contou com o apoio da Universidade da Flórida, do Programa de Ação da Terra da Divisão de Ciências da Terra da Nasa e de diversas entidades e partes interessadas no Brasil, como a Embrapa CerradosAcesse aqui mais informações sobre o projeto CMS4D. 

Tecnologias de destaque

A primeira tecnologia destacada pelo pesquisador Edson Sano foi a do sistema de plantio direto, adotado atualmente por mais da metade das propriedades do país (adoção do plantio direto no Cerrado é de mais de 12 milhões de ha). “Não se trata de uma tecnologia Embrapa, mas que contou com a nossa participação”, esclareceu. Antigamente, ele lembrou, a produção de grãos era feita utilizando uma mecanização intensa, por meio de aração e gradagem. “Hoje, uma parcela pequena dos produtores adota esse tipo de plantio convencional”.

“Com o plantio direto, a biomassa que fica em cima do solo traz uma série de vantagens: reduz a erosão do solo e aumenta a sua umidade. Como há menos necessidade de mecanização, os custos para o produtor diminuem, o que foi muito importante para que a adoção fosse grande ao longo desses anos”, destacou Sano. Outras tecnologias citadas pelo pesquisador foram as diversas espécies forrageiras desenvolvidas pela Embrapa, mais adaptadas às condições climáticas e de solo da região do Cerrado.

Sano destacou, por fim, a tecnologia de integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), que possui diversos arranjos de utilização. Ele mostrou um exemplo de propriedade que utiliza o sistema ILP, com milho e braquiária, o mais utilizado no Brasil, citando algumas de suas vantagens como o aumento das produtividades alcançadas, do sequestro de carbono, controle da erosão e, ainda, maior tempo de uso da terra na fazenda, que passa de quatro para oito a nove meses por ano, em média.

Intensificação agrícola e desafios do monitoramento

Sano lembrou que o monitoramento da condição agrícola do Brasil era feito na década de 90 com imagens do programa Landsat, que eram eventualmente convertidas para diferentes índices de vegetação. “Era assim que a gente fazia um monitoramento da dinâmica espaço-temporal do avanço da agricultura no Cerrado. A gente usava basicamente uma cena por ano, isso significa cento e poucas cenas landsat para cobrir o Cerrado todo. Para fazer um mapa de agricultura demorava até três anos, hoje isso é feito em questão de minutos”, contou.

O fato é que a complexidade cada vez maior dos atuais sistemas de produção impacta diretamente na questão do monitoramento da produção agrícola. “Hoje, por exemplo, mais de 90% do milho produzido no Brasil vem do milho safrinha. É um período muito curto para se ter imagens em número suficiente para fazer esse tipo de monitoramento”, explicou. Segundo ele, no entanto, há ao menos duas possibilidades de avanço em um futuro próximo: o lançamento do satélite Biomass, da agência espacial europeia, previsto para ser lançado este ano e que consegue diferenciar pelo menos oito níveis diferentes de biomassa; e o satélite de radar ALOS-4, da agência espacial japonesa, recentemente lançado e que consegue adquirir imagens da superfície terrestre independentemente da presença de cobertura de nuvens.

Sano apresentou alguns desafios atuais no que diz respeito a esse monitoramento por satélite da intensificação agrícola do país. “Para o mapeamento de pastagens degradas com imagens de satélite, por exemplo, existem ao menos dois desafios a serem vencidos. O primeiro é identificar onde estão essas pastagens degradadas, já que um mapa como esse em níveis de degradação é uma das coisas mais difíceis de serem executadas. Outra questão importante é que a maioria dessas pastagens estão em pequenas propriedades”, ressaltou.

Outro grande desafio que ainda precisa ser atacado, segundo o pesquisador, é o cálculo da estimativa do estoque de carbono encontrado nos subsolos do Cerrado. “A gente sabe que a maior parte da biomassa está embaixo do solo. Então, o uso de imagens de satélite para monitorar esse estoque de carbono e, assim, quantificar o quanto de carbono está estocado nesse bioma constitui-se em um grande desafio de pesquisa que ainda pretendo desenvolver”, planeja.

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